Para os que ficaram

Infelizmente tenho acompanhado muitas demissões nos últimos meses e cenário parece não melhorar no curto prazo – a sangria nas contas públicas é enorme (e sem previsão de estancamento); a corrupção segue generalizada, desenfreada; a inflação já começa a comer o dinheiro do povo; e o país já não é tão atrativo aos investimentos como outrora.

Mas como minha área não é economia e nem política, restringirei a tratar da questão humana, mais especificamente dos sentimentos e comportamentos daqueles que foram poupados da demissão.

O primeiro sentimento que fica é o medo – medo de ser o próximo. Normalmente as empresas não planejam seus processos de reestruturação e, quando o fazem, não o comunica claramente, deixando os funcionários na incerteza e no risco iminente de uma demissão. Isso faz o cair ainda mais o moral, afetando a produtividade e agravando ainda mais a situação.

Nesse caso, você que ficou deve aumentar seu padrão de dedicação, ampliando assim suas chances de sobrevivência e contribuindo para uma melhor recuperação da empresa.

Outro sentimento sempre presente nesses momentos é o de tristeza. Sentimos tristeza por nos afastarmos dos amigos, tristeza por colegas que necessitam mais do salário do que nós mesmos, colegas que precisam muito do plano de saúde. Tristeza ao ver o departamento vazio, silencioso, lúgubre.

A tristeza nos coloca em “modo” reflexivo, portanto devemos aproveitar o momento para meditar sobre o que podemos fazer para reverter a situação e, principalmente, para ajudar os amigos: fiquemos atentos às vagas de emprego e as indicações que podemos fazer a eles e, não menos importante, prestemos apoio emocional.

Raiva é um sentimento que também pode aparecer, normalmente quando não vemos justiça, ou no mínimo lógica, nas escolhas dos desligados: é quando a demissão alcança um dedicado e produtivo colega ou um leal funcionário, muito necessitado do plano de saúde e ainda mais, quando vemos o “puxa-saco” permanecer.

A raiva também pode advir do sentimento de impotência. Podemos nos enfurecer com os nossos governantes, nossa empresa ou nosso chefe, creditando neles a culpa.

De qualquer forma, a raiva é uma emoção muito poderosa no sentido de capacidade motriz, portanto, aproveite para usar a raiva para mostrar o quanto você é capaz e quanto você pode fazer para reverter o cenário.

Finalizo com outro sentimento bastante presente: o cansaço. Ficamos todos esgotados nessas situações, pois, além de enfrentarmos o medo, a tristeza e raiva, ainda temos que encarar a sobrecarga de trabalho. Por mais que tenha caído a demanda de trabalho, a força de trabalho sempre cai em proporção maior.

Aqueles que ficam vivem uma sensação interessante e conflituosa:

triste por seus colegas, mas feliz por sobreviver;

sobrecarregado de trabalho, mas feliz por sobreviver;

feliz por sobreviver, mas o medo ainda assombra!

Fé, força, coragem!