Para os que sujaram as mãos de sangue

Os dois últimos artigos (de uma série de 4), trataram, respectivamente, as emoções vividas por aqueles que viram seus colegas serem desligados – em “Para os que ficaram”; e as emoções e tarefas a serem realizadas por aqueles que foram desligados – em “Para os que foram”.

Agora é a hora de tratar daqueles que fizeram com que as demissões acontecessem – aqueles que sujaram as mãos de sangue.

Demitir não é tarefa fácil. É uma das poucas situações em que conseguimos nos colocar fácil, e precisamente, no lugar do outro. Na verdade, a dor da perda do emprego é comparada a dor da perda de um ente querido ou de uma separação. Mas alguém tem que realizar essa desagradável tarefa – alguém tem que informar o profissional, e até mesmo formalizar a demissão. E essa responsabilidade cabe a seu gestor direto (seu chefe).

Nos casos de demissões por problemas com desempenho ou de relacionamento com colegas, fica bem mais fácil sujar as mãos se, após várias tentativas de correção, não se obteve êxito com melhora nos resultados ou nos relacionamentos. Neste caso, trata-se de lavar a alma com sangue. Pode parecer cruel da minha parte, mas em verdade a “morte” será boa até mesmo para a vítima (ninguém gosta de trabalhar em um lugar onde não se relacione bem ou onde não venha alcançando resultados).

Mas o problema acontece nos momentos de crise e reestruturação, pois, mesmo que o “assassino” culpe a crise ou o novo modelo de negócios, a vítima foi por ele escolhida. Mais ou menos assim: “Ok, entendo, é o momento que a empresa está passando, mas, por que eu e não ele?” Não adianta querer se isentar da responsabilidade.

Aja como um bom algoz, honrando a sua vítima. Como? A resposta está na cara. Basta seguirmos com essa analogia de “sangue e morte”: Julgamento, último desejo, extrema-unção, velório e ressureição. Explico:

Julgamento: seja claro e transparente a respeito dos motivos e das razões que o levaram a essa escolha. Explique sobre os procedimentos legais: datas, indenizações, tempo de assistência médica, apoio para recolocação.

 

Último desejo: Ouça com muito respeito. Deixe espaço para que o profissional possa expressar suas angústias, preocupações e sentimentos. Dê apoio emocional.

Extrema-unção: ajude a preparar a pessoa para “outra vida”. Mostre a ela que o mundo não acaba ali. Que há “vida” além dos vidros de sua “baia”. Ressalte todos os acertos que ela teve “nesta vida” (resultados, competências, responsabilidades). Demonstre o quanto tudo isso vai pesar “na hora do julgamento”.

Velório: reúna-se com sua equipe e comunique sobre o acontecido. Seja honesto, transparente e claro a respeito do que aconteceu. Peça para que todos ajudem na divulgação do perfil do profissional e na atenção às oportunidades relevantes de emprego.

Ressurreição: novo emprego! Vida nova!

Podemos até culpar a economia, a globalização, o concorrente, as inovações. Mas no fundo no fundo a culpa é mesmo do General – daqueles responsáveis por manter a empresa nos trilhos. Daqueles responsáveis por “ler” os cenários do econômicos e sentir o mercado.

Portanto, perdoe-se! Você fez o que tinha que ser feito. O General te colocou nessa posição, você só mirou e puxou o gatilho. A escolha não foi fácil – envolvia vidas, famílias, a empresa, sua equipe e até mesmo a sua vida.

“Matei porquê foi preciso. Matei para manter outros tantos vivos. Matei porquê vida é morte”.

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