Maquiavel e o Velho Noel!

Gosto muito do Natal! Talvez por ter uma família muito grande e que sempre se reuniu nesta data para uma grande confraternização, contando com a presença de parentes geográfica e genealogicamente distantes. Alegria de conversar, de abraçar, de brincar.

As pessoas ficam mais caridosas, tolerantes. O ritmo da vida vai diminuindo, diminuindo, até restar correria apenas nos restaurantes, bares e shoppings.

Mas me parece que as coisas não são bem assim: primeiro você aprende a ganhar presente, depois aprende o real significado da data e por fim começa a dar presentes – tudo parte de um grande plano dos poderosos que conduzem o planeta, mas, por hora quero arguir contra aqueles que criticam este belo feriado, mais adiante desnudarei toda essa farsa.

Para aqueles que criticam o Natal acusando-o de ser uma data comercial, gostaria de lembrar que fazer o comercio “girar” é algo muito saudável para a economia, pois movimenta-se toda uma rede que vai desde indústria primária até terciária. Por que alguém se oporia a isto?

Para os que julgam o Natal como sendo uma “imposição” da Igreja Católica, que se apropriou de outras datas, outros “santos”, outros ritos; tendo a Igreja como algo ruim, danoso – dizendo que cometeu muitos erros e massacres no passado. O que tenho a dizer é que a Igreja cometeu muitos erros, como também cometeu muitos acertos e ajudou muita gente. E isso acontece até hoje – em todas as religiões. Quantos “pastores” fizeram (e fazem) mal-uso do dinheiro dos fiéis? Mas quantos pastores salvam vidas das drogas? Portanto, bem ou mal, bom ou ruim, o Natal é um ritual que nos remete a refletir sobre questões como: fraternidade, caridade, bondade. Por que alguém se oporia a isto?

Mas o plano maior, daqueles que dominam o mundo, é o seguinte: primeiro você é aliciado com presentes e com fantasias – o que faz com que você seja melhor introduzido a um mundo espiritualizado, imaterial e de valores como família, por exemplo. Todo o contato com este lúdico na infância fertilizam o terreno para que nele possa nascer a crença em valores ainda maiores do que a vida – acreditar em alguém que se quer conseguimos provar sua existência: trata-se, sim, de um plano maior para você poder entender o que é “Fé”!

O plano maligno encerra-se em ciclo, quando então você está completamente doutrinado a fazer o bem ao próximo, amar o próximo como a si mesmo, sensibilizar-se com tragédias, doar dinheiro, ou mesmo seu tempo, aqueles que mais necessitam – este é o significado quando disse: “por fim começa a dar presentes”.

Esse é meu presente para vocês: Não importa sua crença, a sua religião, nem mesmo importa se é Natal ou não; O importante mesmo é lembrar, que todos nós somos irmãos.

O futuro do “estado de Flow”

A melhor tradução para a palavra “flow” é “fluir”. Na engenharia, flow é empregado para descrever um fluxo constante e descomplicado de algum fluído (líquido, gasosos) ou da eletricidade. No nosso português empregamos o termo para descrever um estado de fluir.

“Estado de fluir” já era empregado em traduções de conteúdos provenientes das filosofias orientais, pois é o que melhor descreve os estados meditativos, quando a mente em suspensão alcança um estado de pensamento fluido, ou seja, em um fluxo livre, constante, descomplicado. Algo difícil de explicar, melhor é sentir, praticar.

Mas tem uma experiência de fluir que todo mundo já experimentou, o que facilita a explicação: encontramo-nos em estado de flow quando estamos tão absorvidos em uma tarefa, em uma atividade, que sequer vemos o tempo passar – é estar completamente absorto.

Os neurocientistas, analisando as imagens das tomografias computadorizadas do cérebro, identificaram que, durante tal estado, todos os circuitos cerebrais necessários para a melhor execução de uma atividade ficam ativos e dedicados a ela, enquanto que os circuitos desnecessários permanecem completamente inativos. Ou seja, o cérebro está completamente focado naquela atividade. Nada o distrai, nem mesmo o passar do tempo.

Por que o assunto é importante? Porque hoje temos muita dificuldade de nos concentrarmos em uma tarefa ou uma atividade em específico. Somos a todo o momento interrompidos ou assediados pelos assovios das mensagens de textos dos nossos gadgets, os bips de chegada de e-mails ou mesmo o tradicional telefone que toca. É muito difícil nos mantermos focado em algo pelo tempo necessário.

O cérebro é como um músculo – deve ser exercitado: podemos, e até certo ponto devemos exercitá-lo, atuando em duas ou mais tarefas ao mesmo tempo, por exemplo. Mas os pesquisadores advertem: nosso cérebro não foi projetado para isso. Assim fazendo, perdemos, e muito, a eficiência. Portanto não indico este exercício para as tarefas de maior responsabilidade ou complexidade.

Mas acredito que nossas crianças, nascidas na “era” dos tablets e smartphones, e que já começam a exercitar a multifuncionalidade do cérebro durante a sua própria formação, alcançarão poderosos estados de flow – múltiplos e ao mesmo tempo focados.

Sísifo e eu no trabalho

Meu próximo relatório será entalhado em uma pedra. Sim, redigirei em mármore, em alusão ao trabalho de Sísifo, que ainda hoje carrega, inutilmente, sua pedra de mármore morro acima.

Não sei quantos dos leitores já elaboraram ou ainda elaboram relatórios que não são usados para nada, e o pior, eles normalmente vêm com prazos de conclusão apertados. Quantos projetos são iniciados, consomem tempo e dinheiro e depois são abandonados?

Talvez os relatórios, devido às informações excessivas ou pelo fato de o solicitante não saber exatamente do que precisa, ou mesmo por não se poder fazer nada a respeito das informações relatadas, fiquem estacionados na mesa, sujeitos às ações do tempo – “é quando nossa pedra rola morro abaixo”. Quem sabe se os projetos, por serem mal elaborados – não definindo claramente seus objetivos, as metas, as tarefas, as ações e os prazos – acabem por se perder no caminho. Principalmente enquanto surgem os “incêndios” que necessitam combate.

Voltemos a Sísifo. Para quem não conhece a história, ele foi condenado pelos Deuses a passar toda a eternidade carregando uma enorme pedra de mármore até o cume de uma montanha. À medida que ele se aproxima do topo, a pedra rola morro abaixo por uma força à qual ele não consegue resistir, tendo, então, que descer ao sopé e retomar todo o trabalho.

O Mito de Sísifo nos mostra por que precisamos imediatamente remover do trabalho o desnecessário. Vamos focar no simples, no básico, no útil. Criamos tantos indicadores e tanta tecnologia da informação que já não sabemos o que fazer com eles. É importante lembrar que hoje temos altíssima eficiência na obtenção de dados e até mesmo na geração de informação mas, quando o assunto é a criação de conhecimento e, principalmente, a transformação desse conhecimento em resultados, a situação se inverte.

É possível que nossos avanços tecnológicos se deem em um sentido de facilitar o transporte dessa pedra. É como se buscássemos meios de obter mais força para carregá-la, mais eficiência, rapidez, melhores rotas para a travessia, maior conforto na execução da tarefa – e nunca nos preocuparmos em estudar o porquê ela cai, ou mesmo o porquê de a carregarmos.

Nesse ponto outra analogia se torna interessante: Sísifo recebeu essa sentença por ter desdenhado dos Deuses e enganado a morte por duas vezes. Será que estamos tentando enganar a morte? Ninguém quer mais envelhecer – é como se o velho hoje não fosse mais o sábio, e sim o jovem que domina essas novas tecnologias. Escondemos nossas rugas, pintamos nosso cabelo, fazemos plástica. Talvez para que a morte, ao nos ver, pense: “Puxa, acho que errei o dia. Cheguei antes do previsto. Deixe-me ver quem é o próximo de minha lista”.

E quanto a desdenhar dos Deuses? Deus (Deuses) está(ão), de fato,  presente(s) em nossas vidas? Parece que para nossa moderna sociedade não precisamos mais de Deus, a ciência pode nos dar todas as respostas. E olha que, em 1978, Raul Seixas já alertava: “E onde é que está a vida? Onde é que está a experiência? Já te entregam tudo pronto, sempre em nome da ciência, sempre em troca da vivência”.

Desejo que alcancemos maior realização em nossas vidas com simples atitudes como planejar nossas tarefas, focar no necessário, questionar nossos porquês, respeitar nossas divindades – lembrando-nos de que somos todos mortais.

Mas meu próximo relatório será na pedra, aludindo a Sísifo e enaltecendo Moisés, cujo relatório, feito na pedra,  é objetivo, claro, aplicável e ainda hoje respeitado.

Renascimento

Hoje é sexta-feira santa, data em que os cristãos se preparam para relembrar o renascimento de Cristo. Se acreditas na história, se és ou não cristão, pouco importa, pois o que quero dizer é que o renascimento tem muito a nos ensinar.

Renascimento significa nascer de novo, portanto, a palavra carrega em si o poder da geração – do nascer. E mais do que isso – o nascer novamente. O nascimento é um dos grandes milagres da natureza, renascer então é perpetuar o milagre – é não deixar que a vela se apague.

Interessante é que renascer sempre alude à evolução. Ninguém (nem algo) renasce pior do que o era. Mesmo quando dizemos “renasceu das cinzas” entendemos que, após o período das cinzas recriou-se, no mínimo, como já fora.

Mas ainda falta um elemento muito importante quando falamos de renascimento. Para renascer é preciso morrer. Agora fechamos o ciclo: desenvolvimento – morte – renascimento, assim sucessivamente em uma espiral ascendente, assaz!

E o que isso tudo tem a ver com o mundo profissional? Muito simples:

A cada novo emprego, a cada novo cargo – o antigo profissional tem que morrer para poder renascer pronto para o novo desafio.

Mas como eu disse, trata-se de um ciclo evolutivo, portanto fica subentendido que todo o aprendizado, todas experiências, todas as competências não são perdidas com o “ato de morrer”, afinal, entendo por morte apenas a perda dos aspectos materiais, físicos. Aquilo que é imaterial, virtual – imanente à consciência, a alma ou ao coração é o que é levado para essa “outra vida”. Desse modo, a morte, as cinzas, nada mais são do que o recomeço, o frio na barriga por saber que novas coisas terão de ser aprendidas, novas competências terão de ser desenvolvidas – uma sensação de que tudo que desenvolvi até agora não mais parece suficiente.

Quando uma semente encontra condições ideais (umidade, temperatura) ela decide deixar de ser semente para se transformar em uma muda – uma plântula. E se estiver em solo fértil, logo se transformará em uma bela planta ou uma grande árvore.

Nesse feriado de Páscoa, desejo a vocês um lindo renascimento: que renasçamos no novo ou no velho emprego, que renasçamos no novo ou no velho cargo, que renasçamos na nova ou na velha fé.

Feliz Páscoa!

Inflação na Bahia chega a 20%

lavagem-bonfim-esta1

Estive na semana passada em Salvador para a tradicional lavagem do Senhor do Bonfim. Essa foi a terceira edição seguida da qual eu participo. Alguns vão para lá em busca de festa, de alegria, de cerveja – o que chamam de “a parte profana da festa”. Já eu, vou atrás da fé. Vou para refletir, ao longo dos 8,5 quilômetros que separam a Basílica da Nossa Senhora da Conceição da Praia  do Santuário de Nosso Senhor do Bonfim e que compõem a peregrinação. Caminho meditando sobre meu último ano, minha ações, no que fui bom, no que posso melhorar. Agradeço pelas coisas boas que obtive e peço perdão pelos meus pecados.

A razão que me fez devoto e adepto deste ritual é bem simples. Fiquei muito surpreso logo na primeira vez que participei, pois, no adro da Basílica, onde acontece uma prece que dá início a caminhada, várias religiões dividiam, harmonicamente, o palco. Tivemos a benção do padre, da monja, do pastor, do espírita e do babalorixá. Fiquei maravilhado com isso.

Não importa se é Cristo, Buda, Olorum. Não importa o caminho, mas sim o destino. Não importa nem mesmo se és ateu. Lá não importam as diferenças, mas sim a unidade. E qual a unidade que vejo? Muito simples: amor ao próximo, paz, e a busca por um mundo melhor.

Estar lá, diante deste adro, poucos dias após o ataque ao jornal francês foi uma grande honra. Precisamos mostrar ao mundo todo como se pratica religião na Bahia! Se os radicais islâmicos participassem dessa festa, talvez pudessem ser um pouco mais tolerante. Se os cartunistas ateus se ajoelhassem junto às baianas, derramando água de cheiro nas escadas, talvez respeitassem mais a religião do próximo.

Mas a essa altura a pergunta que fica é: porque a inflação na Bahia atingiu 20%. Pois bem, quando da minha primeira participação na festa, estranhei cartazes que diziam: periguete 3 por R$ 5,00. Na verdade fiquei até assustado, dado o entendimento que eu, paulistano, tenho da palavra periguete. Mas depois vim a saber que periguete na Bahia é, também, aquela latinha de cerveja pequena, de 269 ml, que nesse ano era vendida 3 por R$ 6,00 – um aumento de 20% em relação ao ano anterior.

João Xavier