Aquilo que nunca te falaram sobre a Uber (Atualização)

Atenção: Você está diante de um dos melhores artigos por mim publicados. Para não soar arrogante: não quero dizer que o artigo é bom, mas sim que, dentre os meus, é um dos melhores. Faço esse alerta por dois motivos (1) o artigo é longo, mas vale a leitura, e (2) acabo de atualizá-lo – ele foi originalmente publicado em março de 2016, mas diante de tantas mudanças foi necessária uma nova edição – todas as atualizações estão sinalizadas.

Antes que esse artigo gere qualquer tipo de polêmica a respeito da Uber, quero deixar bem claro que não tenho nada contra a empresa ou seus serviços prestados. Usei e uso seus serviços sempre que necessário.

  • Atualização (Abr/2017): Não sou contra a entrada da Uber, muito pelo contrário, sou a favor da livre-concorrência. Mas o assunto é por demais complexo, envolve questões como: máfia dos alvarás, sindicatos, legislação, tecnologia … Por isso, minha singela proposta com este artigo é ampliar nossa visão e, consequente reflexão, sobre o assunto.

Tenho percebido certo glamour em se defender o serviço da  Uber. É como se quem defendesse os taxistas fosse retrógrado ou analfabeto tecnológico, no entanto, vejo algumas questões importantes que estão passando despercebidas pelos “fãs” do novo aplicativo. Aliás aqui já reside um ponto: (1) estão vendendo a empresa como se fosse uma empresa de tecnologia e que seu serviço nada tem a ver com o serviço de táxi – como se fosse apenas um aplicativo. Tenham certeza de uma coisa: trata-se de uma empresa, muito grande por sinal, e que se seus serviços não concorrem diretamente com os serviços de táxi, os de seus “parceiros” sim, concorrem diretamente.

  • Atualização (Abr/2017): Esse glamour todo se acabou. Seus motoristas reclamam da pouca lucratividade, a qualidade dos carros (e atendimento) despencou, afinal, os melhores profissionais abandonam a Uber na primeira oportunidade de emprego que aparece, e problemas com a segurança tem sido destaque na imprensa.

(2) O Serviço é tecnicamente ilegal e foi proibido em países como França, Itália, Alemanha e muitos outros. E por possuir apenas uma forma de pagamento (cartão de crédito) fere o nosso código de defesa do consumidor.

  • Atualização (Abr/2017): O aplicativo já oferece o pagamento em dinheiro. Na Franca a briga está muito boa e tem condenado a Uber a pagar multas milionárias e na Itália a proibição acaba de ser suspensa – mas a briga ainda continua pela Europa.

Antes da Uber, qualquer motorista que se propusesse a transportar passageiros recebendo algo em troca por isso era considerado transporte pirata. Como que num passe de mágica, depois da criação de um aplicativo, esse tipo de proposta se transformou em “carona compartilhada” ou mesmo em um serviço legal. Mas o que mudou na natureza dessa prestação de serviço para que o transformasse em algo legal? Nada! O mais interessante é que, por exemplo, prostituição não é crime, mas agenciar pessoas para esse tipo de “relação” o é. Pensando agora em Uber, uma atividade que já constituía-se como ilegal (o transporte clandestino de passageiros), depois de surgir um “agente” intermediador torna-se então lícita!?!

Duas grandes lendas surgiram: (3) o serviço é mais barato e (4) a qualidade é excelente.

O que acontece é que na interação: serviço x qualidade o preço é igual ou superior ao do táxi. A Uber tem dois serviços distintos: o Uber X e o Uber Black. O primeiro com a proposta de baixo preço e o segundo com a proposta de excelência no serviço, mas acontece que sua mensagem de marketing mostra como se essas duas características acontecessem simultaneamente, o que não é verdade – “vendem” a imagem do táxi preto, banco de couro, spotify – o que só acontece com o Uber Black. Além do mais, o preço é variável, existe um fator de correção (preço dinâmico) que ajusta o valor da corrida conforme a oferta e procura, portanto, em horários ou locais com maior procura o preço aumenta, de modo a não ser uma alternativa sempre mais barata (importante ressaltar que independente da dinâmica do preço, este é sempre previamente estimado quando da solicitação da corrida).

  • Atualização (Abr/2017): A qualidade do Uber-X caiu muito. Tem muitos carros velhos, motoristas despreparados e até mal-educados (já tive que pedir para que ligasse o ar-condicionado).

Aproveitando que estamos falando de qualidade, outros dois fatores (que inclusive já aconteceram comigo) interferem sobremaneira na experiência do usuário, a saber: (5) os motoristas podem escolher a corrida – é bastante desagradável encontrar um carro disponível à 10 – 15 minutos de distância. Sem falar quando após 1 minuto da solicitação você descobre que o motorista “sumiu”. E (6) muitos motoristas não são conhecedores da cidade de São Paulo e acabam por errar ou fazer piores caminhos (isso já aconteceu comigo duas vezes).

Estratégias e Posicionamento de Marketing

A empresa joga pesado (7), para não dizer sujo, em suas estratégias de marketing. Seus motoristas não estavam (e ainda estão) muito satisfeitos com a política de 15% de desconto (que já perdurava há 3 meses) adotada para ganhar mais clientes.

  • Atualização (Abr/2017): Essa política de desconto ainda perdura. A insatisfação dos motoristas é tão grande que já estão se organizando, promovendo manifestações e até greves. Muitos motoristas descredenciados estão entrando na justiça do trabalho e já há relatos de ganho de causas.

Grande verbas são destinadas a programas como: primeira corrida de graça, ganhe chope de graça em bares ao ir de Uber, dentre outras campanhas. Eles investem muito em influenciadores nas redes sociais e Youtube. Há quem diga até sobre falsos ataques de taxistas, o que não chego a acreditar, mas tenho a certeza do forte empenho por parte da empresa em viralizar ou exagerar os incidentes ocorridos e minimizar ou abafar as mídias que explicam sobre a (8) concorrência desleal, por exemplo.

Não há como negar a concorrência desleal! O mesmo serviço é oferecido e por preços (no caso do Uber X) consideravelmente menores – sem falar nessas campanhas que facilmente poderiam ser consideradas com prática de dumping.

O problema é que os taxistas não exercem poder diretamente na precificação de seus serviços – quem cuida disso são as Prefeituras, através de suas Secretarias de Transportes, portanto, os motoristas de táxis estão de mãos atadas.

  • Atualização (Abr/2017): Na verdade os taxistas não fazem pressão alguma no sentido de baixarem seu preço. Sempre digo: se o táxi fosse apenas 10%, quem sabe até 20% mais caro, em alguns casos. Com toda certeza eu optaria na maioria das vezes pelo Táxi! A frota de táxi de São Paulo e até mesmo a de Salvador não estão sucateadas. Claro que há casos de carros ruins, mas a maioria são carros com até 3 anos de vida, prazo pelo qual o taxista pode adquirir outro veículo com a isenção de impostos.
  • Tenho visto pressão de sindicatos de taxistas pedindo pela regulamentação da atividade do Uber, alegando concorrência desleal, quando na verdade acredito que eles deveriam buscar igualdade de direitos só que desregulamentando o Táxi.

Subemprego

Vou finalizar minhas críticas com o ponto que mais me incomoda e que diz respeito a minha área de atuação: a Uber é para mim considerado (9) subemprego!

A empresa cobra 20% de todo o resultado de seus motoristas (o que para mim é uma taxa absurda) e é ela que dita os valores das corridas. Os custos (gasolina, manutenção, depreciação, pedágios, impostos) são todos de responsabilidade do motorista. Eles “vendem” a ideia de que você pode ganhar 7, 11, 15 mil Reais, mas não falam que isso só é possível com o Uber Black (que exige um carro padrão corola) ou trabalhando mais de 12 horas por dia. E o mais importante: a renda dos motoristas está diminuindo, isso porque no início havia menos carros. Na medida em que aumenta a quantidade de motoristas credenciados, diminui a quantidade de corridas possíveis e diminui o preço da corrida (devido à precificação dinâmica), impactando diretamente no faturamento bruto do “parceiro”.

Ouvi de mais de um motorista dizer que no início dava para ganhar mais dinheiro e que agora as coisas estão mais difíceis. Quem fazia R$ 8 mil agora faz R$ 6, por exemplo. E a tendência é diminuir ainda mais, haja visto a exponencialidade do crescimento da empresa.

Quando comparado com a jornada de trabalho normal um motorista de Uber X realizará aproximadamente R$ 12.000,00 bruto mensal, que descontado taxa do Uber, manutenção, combustível, impostos, depreciação não restará mais do que R$ 6.000 líquido. Acrescente a isso o fato do emprego oferecer 13º. salário, plano de saúde e férias e verás que o negócio não é tão bom assim – equivaleria a um salário de R$ 3.800,00. (Veja aqui as bases de cálculo)

  • Atualização (Abr/2017): Esqueçam essa base de cálculo. Não precisamos mais. Já temos muitos depoimentos de motoristas informando uma receita média líquida semanal de R$ 750,00 -, logo, aproximadamente R$ 3.000,00 por mês. Mas tem um grande detalhe, nessa conta não está a depreciação do veículo. Portanto, o motorista tem a percepção de um lucro de 3 mil, quando na verdade, excluindo a deprecação, seu lucro é próximo dos 2 mil.

Pode até parecer um bom salário, mas imagine quando for preciso fazer uso da franquia do seguro ou mesmo quando o carro ficar parado para reparos e manutenções. E conforme dito anteriormente, a tendência é a concorrência aumentar e o rendimento do motorista cair.

O outro lado

De fato, (1) o consumidor foi favorecido. No meu caso, por exemplo, uma corrida para o Aeroporto de Guarulhos com a Uber, fica na faixa de R$ 55,00, enquanto que o táxi comum está na faixa dos R$ 100,00 e o Guarucoop não sai por menos de R$ 135,00.

Viajo com muita frequência e costumo voltar as sextas-feiras muito tarde, por volta da meia noite. Sempre encontro grandes filas no táxi do aeroporto. São duas filas na verdade: uma para pagar e outra para pegar o carro. Já cheguei a ficar 30 minutos nessa espera. Ou seja, quem me cobra o maior preço é quem me oferece o pior serviço.

A qualidade do serviço é muito superior quando tratamos do Uber Black e relativamente superior quando falamos de Uber X. Digo relativamente pois vejo que o serviço de táxi na cidade de São Paulo é muito bom. Dificilmente encontramos taxistas mal-humorados ou mal-educados, o que não posso afirmar quanto a outras praças, como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde já tive muitos problemas com taxistas.

Outro ponto importante é que (2) subemprego é melhor que desemprego. Na atual situação do mercado de trabalho, a Uber aparece como uma boa fonte de trabalho e receita.

Por fim, entendo que (3) o grande problema reside na máfia que se formou em torno dos alvarás de licenças dos taxistas.

Conclusão:

  • Atualização (Abril/2017): Se os taxistas tivessem se empenhado em baixar sua tarifa (10-20%) e melhorar a qualidade do atendimento (veículo, tecnologia e educação dos motoristas) em vez de brigarem e exigirem regulamentação da Uber, com certeza hoje estariam em melhores condição de competição.

A tecnologia, com suas infinitas possibilidades, está transformando o mundo. As regras criadas no passado não mais atendem as necessidades presentes e, principalmente, futuras. No caso dos Táxis, por exemplo, a regulamentação criada pela legislação e pelas secretarias de transportes foi necessária justamente para proteger os taxistas e os passageiros, legislando sobre preço, formação profissional, direção segura e rentabilidade da profissão. O que protegeu os taxistas no passado é o que está os matando no presente – devido a todo o aparato regulatório eles não têm como reagir à concorrência.

O Uber descortina o momento de ruptura pelo qual estamos passando. É impossível se chegar a uma conclusão a respeito dessa situação – não dá para apoiar 100% nenhuma das partes, todas carregam consigo boas razões e algumas sacanagens.

O que acho que está acontecendo é que a tecnologia está colocando em cheque o atual sistema econômico. Ela está extrovertendo o grande conflito interno do ser-humano: ego x self. Como animais somos egoístas, mas como humanos somos altruístas.

Ainda não percebemos que: ser rico enquanto a maioria é pobre, não é tão bom assim; ser saudável enquanto a maioria adoece, também não é tão bom assim; ser culto enquanto a maioria é ignorante, também não é tão bom assim.

De maneira mais poética e artística lhes digo: o amor existe para nos ensinar essa lição, é só trocar a palavra “maioria” pela palavra “irmão” no texto acima. Vamos lá faça o teste. Não vou reescrever o texto, quero que você o releia substituindo as palavras conforme sugeri… insisto – não vou seguir com o texto enquanto você não o fizer!

E ai, que achou?

Mas dito de maneira mais técnica: é como propôs Thomas Friedman, jornalista norte-americano em seu livro: O Mundo é Plano. Estamos vivendo um conflito de papéis:

O João empresário que reside aqui dentro de mim não quer pagar impostos, quer pagar os menores salários e vender seus produtos e serviços pelo maior preço possível. O João consumidor que também reside aqui comigo, quer comprar os produtos e serviços mais baratos possíveis. Já o João funcionário, que também reside cá comigo, quer o maior salário possível, com os maiores benefícios e com menores impostos. Por fim, o João cidadão brasileiro, quer saúde, educação, transporte …

Quando vamos acordar para “o todo”? É chegada a hora de uma economia mais humana, uma economia de colaboração, com melhor distribuição do bem.

Gamification e Motivação

O conceito Gamification foi criado em 2003 pelo programador inglês Nick Pelling e hoje vem ganhando espaço no mundo corporativo. Em português é conhecido como Gamificação, levando-nos a concluir que trata-se de transformar algo em um game, um jogo.

É mais ou menos isso, para ficar melhor esclarecido vamos usar a definição de Karl Kapp: “Gamification é a utilização da mecânica, estética e pensamento baseados em games para mobilizar pessoas, motivar a ação promover aprendizagem e resolver problemas”. Ou seja, trata-se do uso de elementos de jogos para o alcance de determinado objetivo.

Muitas organizações têm usado o conceito sob a forma de técnicas para promover aprendizado, desenvolvimento, comprometimento, melhor desempenho. O fato é que os games têm muito a dizer sobre a motivação humana, haja visto que, nas palavras de Flora Alves, “os games são uma superação voluntária de obstáculos desnecessários”.

O que tanto atrai nos games? Por que dedicaria meu tempo para superação de obstáculos desnecessários?

Os estudos da psicologia sobre motivação podem dar algumas pistas. Para a psicologia temos três grandes classes de motivadores: (1) motivos homeostáticos – que são as nossas necessidades físicas e psíquicas em busca de equilíbrio interno; (2) motivos cognitivos – nossas funções intelectuais e cognitivas envolvidas com os atos de pensar, simbolizar, refletir, analisar e solucionar problemas; e por fim (3) motivos sociais – que são nossos relacionamentos, convivência, diversão, aprovação, competição.

Desse modo, podemos ver que os elementos dos games podem acionar nossos motivos cognitivos: como o prazer de passar uma fase, de terminar um quebra cabeça, de resolver uma charada (ou um Sodoku); e nossos motivos sociais: como nos divertir em quanto jogamos em grupo, rivalizarmos as disputas, sermos reconhecidos como competente. Logo, é incontestável o poder motivacional dos jogos.

Portanto, o emprego dos conceitos e elementos de jogos para obtenção de resultados por parte das organizações, abre grandes oportunidades para os aficionados por jogos e seus designers, mostrando que o jogo pode ser bem mais do que uma brincadeira, pode ser uma profissão. Ou será o contrário?

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Artigo originalmente publicado em no Olhar Digital – Gamification: a aposta das empresas para melhorar os resultados

Lean Start-up

As Start-ups estão na moda. O mito de hoje é crer que qualquer um pode se tornar um milionário da noite para dia na garagem da casa da sua mãe. Mas, como disse o filósofo Alain de Botton: as chances de isso acontecer não são maiores do que as chances de um plebeu se tornar um aristocrata na França do século XVIII. Portanto, aprender sobre o conceito de lean start-up é fundamental para quem quer concorrer nesta loteria.

Uma tradução literal para Lean Start-up seria “Empresa nova e enxuta”. O termo, assim como sua filosofia, foi emprestado da indústria: do Lean Manufacturing, que consiste na fabricação enxuta. Ou seja, Lean Start-up seria iniciar uma empresa da maneira mais enxuta possível.

Segundo a Wikipedia, o conceito foi produzido por Eric Ries e consiste em um processo usado por empreendedores para desenvolver produtos e mercados. Mas é a filosofia por de trás deste conceito que mais me atrai: errar cedo e aprender rápido com o próprio erro.

Desse modo, a ideia é produzir um protótipo mínimo necessário para rapidamente validar com o consumidor a sua ideia – coletando informações sobre o mercado e os clientes de modo a reestruturar o projeto logo no início. Aliás, muitos procuram por clientes para desenvolverem juntos o projeto (“projeto piloto”, por exemplo).

Essa metodologia é bastante similar a uma outra: o Design Thinking. Na verdade, o Design Thinking é parte integrante do Lean Start-up, pois ele também preconiza o envolvimento do cliente logo no início para testes em protótipos. A diferença é que no Lean Start-up pensamos como empresa – no todo, portanto a racionalização dos recursos se aplica a todos departamentos (administrativo, RH), enquanto que o Design Thinking fica mais restrito ao desenvolvimento do produto e do mercado.

Não poderia deixar de falar em outra ferramenta fundamental para o planejamento estratégico de uma Start-up: o Canvas, que nada mais é do que um quadro (uma matriz) para o exercício de modelagem de negócios. Apresento abaixo a matriz, poupando assim as explicações necessárias.

CANVAS

Se você quiser aumentar as probabilidades de sucesso em sua empreitada, além de aplicar o exercício do Canvas, recomendo a leitura de The Lean Startup, de Eric Ries e The Startup Owner Manual, de Steve Blank. E sobre design thinking, o livro Design Thinking Brasil, de Tennyson Pinheiro e Luis Alt vale a pena a leitura.

Hackers e a economia colaborativa

O mundo está se transformando em velocidade exponencial. A tecnologia vem provocando mudanças disruptivas, ou seja, mudanças muito mais profundas com transformações que quebram por completo o sistema em funcionamento.

Vejamos alguns exemplos:

  1. Smartphone: transformou por completo a indústria de celulares, e ainda causou grande impacto nas indústrias de telefonia móvel e de computadores.
  2. Ipod: junto com a internet transformou por completo a indústria da música.
  3. Facebook, Instagram e Youtube: estão roupando por completo a audiência da televisão e permitindo que pessoas comuns entre para o mundo da fama.

Recentemente assistimos outras grandes inovações de cunho tecnológico. Estas se deram através de aplicativos, os quais costumo chamar de “batedores de carteira”. São aplicativos que simplesmente roubam para si toda a movimentação financeira de determinado mercado. Exemplo: Easy Taxi e o 99 Taxi: esses aplicativos simplesmente roubaram toda a carteira das radio-taxis e cooperativas – simples assim! É o que o Netflix está fazendo agora com a TV fechada e a Uber com a clientela dos taxistas.

Poderíamos seguir com esses casos e até aprofundar na discussão a respeito da ética e das vantagens e desvantagens dessas tecnologias, mas não essa a intenção deste artigo, além do mais nenhuma tecnologia é boa ou má por si só: como diz o filósofo Mario Sérgio Cortella: “Um martelo não é bom ou mal, mas sim uso que fazemos dele. Um martelo quando usado para bater um prego é perfeito, mas se usarmos barra bater na cabeça de alguém será horrível”.

A intenção deste artigo é provocar a reflexão sobre como podemos transformar nosso mundo para melhor fazendo uso da tecnologia. A tecnologia consegue ampliar as possibilidades de conexões, e pessoas com interesses (ou competências) em comum poderão, agindo de forma organizada (e orgânica) competir com grandes corporações.

Por exemplo a Easy Taxi. Por que os taxistas não se uniram para criar um aplicativo igual? Depois veio a Uber: por que as pessoas não se juntaram para criarem um aplicativo que possibilitasse trabalharem com seu próprio carro? Claro que a resposta para essas perguntas é muito complexa e envolve diversos fatores, como por exemplo a longa batalha da Uber para conseguir legalizar seu serviço, mas o que quero mostrar é que é possível sim, basta um Hacker bem-intencionado e uma boa quantidade de pessoas fortemente interessadas.

Claro que estou empregando a palavra Hacker como sendo o profissional que produz grandes feitos na área da tecnologia da informação – mais uma vez parafraseando Cortella: “o Hacker por si só não bom ou mau, mas sim o propósito da qual emprega seu conhecimento”.

Há muita tecnologia aberta e disponível. Muitas linguagens de programação são facilmente divulgadas e propagadas. As grandes empresas como a Google e a Microsoft ensinam gratuitamente suas linguagens de programação, justamente para que o coletivo possa ampliar as possibilidades de suas tecnologias – eles já aprenderam a lição do “crescimento orgânico”.

Abaixo listo alguns exemplos do que estou dizendo:

Magento: é uma plataforma gratuita para desenvolvimento de lojas virtuais. Ela é totalmente colaborativa: existe uma grande comunidade de programadores produzindo aplicações para ela.

Cartese.me: é um site que promove o financiamento coletivo. Se você tem algum projeto e precisa arrecadas fundos, você o anuncia neste site e poderá receber recursos de outras pessoas que simpatizem com sua ideia. É o famoso “crowdfunding

Airbnb: é um aplicativo que permite que você alugue um quarto ou mesmo a sua casa para viajantes. Agora qualquer um tem condições de competir com um Hotel.

E por fim, o melhor de todos os exemplos: o Waze!

Waze: aplicativo de trânsito e navegação. Acredito até que dispense apresentação, principalmente nas grandes cidades! Para mim é impossível dirigir em São Paulo sem ele. É totalmente colaborativo, pois é alimentado pelas informações dos usuários: quanto mais usuários ligados, maior sua precisão.

Portanto, a tecnologia vem democratizando e nivelando nosso mundo: só está faltando enxergarmos de forma coletiva as nossas vidas. Eu sonho com o dia em que muitos Hackers se engajarão em um propósito maior: em um projeto de humanidade.

Aquilo que nunca te falaram sobre o Uber

Atenção: Este artigo foi atualizado! Recomendo a leitura da nova versão: Aquilo que nunca te falaram sobre a Uber (Atualização)

Antes que esse artigo gere qualquer tipo de polêmica a respeito do Uber, quero deixar bem claro que não tenho nada contra a empresa ou seus serviços prestados. Já usei seus serviços e voltarei a usá-los sempre que necessário.

Tenho percebido certo glamour em se defender o serviço do Uber. É como se quem defendesse os taxistas fosse retrógrado ou analfabeto tecnológico, no entanto, vejo algumas questões importantes que estão passando despercebidas pelos “fãs” do novo aplicativo. Aliás aqui já reside um ponto: (1) estão vendendo a empresa como se fosse uma empresa de tecnologia e que seu serviço nada tem a ver com o serviço de táxi – como se fosse apenas um aplicativo. Tenham certeza de uma coisa: trata-se de uma empresa, muito grande por sinal, e que se seus serviços não concorrem diretamente com os serviços de táxi, os de seus “parceiros” sim, concorrem diretamente.

(2) O Serviço é tecnicamente ilegal e foi proibido em países como França, Itália, Alemanha e muitos outros. E por possuir apenas uma forma de pagamento (cartão de crédito) fere o nosso código de defesa do consumidor.

Antes do Uber, qualquer motorista que se propusesse a transportar passageiros recebendo algo em troca por isso era considerado transporte pirata. Como que num passe de mágica, depois da criação de um aplicativo, esse tipo de proposta se transformou em “carona compartilhada” ou mesmo em um serviço legal.

Mas o que mudou na natureza dessa prestação de serviço para que o transformasse em algo legal? Nada! O mais interessante é que, por exemplo, prostituição não é crime, mas agenciar pessoas para esse tipo de “relação” o é. Pensando agora em Uber, uma atividade que já constituía-se como ilegal (o transporte clandestino de passageiros), depois de surgir um “agente” intermediador torna-se então lícita!?!

Duas grandes lendas surgiram: (3) o serviço é mais barato e (4) a qualidade é excelente.

O que acontece é que na interação: serviço x qualidade o preço é igual ou superior ao do táxi. O Uber tem dois serviços distintos: o Uber X e o Uber Black. O primeiro com a proposta de baixo preço e o segundo com a proposta de excelência no serviço, mas acontece que sua mensagem de marketing mostra como se essas duas características acontecessem simultaneamente, o que não é verdade – “vendem” a imagem do táxi preto, banco de couro, spotify – o que só acontece com o Uber Black. Além do mais, o preço é variável, existe um fator de correção (preço dinâmico) que ajusta o valor da corrida conforme a oferta e procura, portanto, em horários ou locais com maior procura o preço aumenta, de modo a não ser uma alternativa sempre mais barata (importante ressaltar que independente da dinâmica do preço, este é sempre previamente estimado quando da solicitação da corrida).

Aproveitando que estamos falando de qualidade, outros dois fatores (que inclusive já aconteceram comigo) interferem sobremaneira na experiência do usuário, a saber: (5) os motoristas podem escolher a corrida – é bastante desagradável encontrar um carro disponível à 10 – 15 minutos de distância. Sem falar quando após 1 minuto da solicitação você descobre que o motorista “sumiu”. E (6) muitos motoristas não são conhecedores da cidade de São Paulo e acabam por errar ou fazer piores caminhos (isso já aconteceu comigo duas vezes).

Estratégias e Posicionamento de Marketing

A empresa joga pesado (7), para não dizer sujo, em suas estratégias de marketing. Seus motoristas não estavam muito satisfeitos com a política de 15% de desconto (que já perdurava há 3 meses) adotada para ganhar mais clientes.

Grandes verbas são destinadas a programas como: primeira corrida de graça, ganhe chope de graça em bares ao ir de Uber, dentre outras campanhas. Eles investem muito em influenciadores nas redes sociais e Youtube. Há quem diga até sobre falsos ataques de taxistas, o que não chego a acreditar, mas tenho a certeza do forte empenho por parte da empresa em viralizar ou exagerar os incidentes ocorridos e minimizar ou abafar as mídias que explicam sobre a (8) concorrência desleal, por exemplo.

Não há como negar a concorrência desleal! O mesmo serviço é oferecido e por preços (no caso do Uber X) consideravelmente menores – sem falar nessas campanhas que facilmente poderiam ser consideradas com prática de dumping.

O problema é que os taxistas não exercem poder diretamente na precificação de seus serviços – quem cuida disso são as Prefeituras, através de suas Secretarias de Transportes, portanto, os motoristas de táxis estão de mãos atadas.

Subemprego

Vou finalizar minhas críticas com o ponto que mais me incomoda e que diz respeito a minha área de atuação: o Uber é para mim considerado (9) subemprego!

A empresa cobra 20% de todo o resultado de seus motoristas (o que para mim é uma taxa absurda) e é ela que dita os valores das corridas. Os custos (gasolina, manutenção, depreciação, pedágios, impostos) são todos de responsabilidade do motorista. Eles “vendem” a ideia de que você pode ganhar 7, 11, 15 mil Reais, mas não falam que isso só é possível com o Uber Black (que exige um carro padrão corola) ou trabalhando mais de 12 horas por dia. E o mais importante: a renda dos motoristas está diminuindo, isso porque no início havia menos carros. Na medida em que aumenta a quantidade de motoristas credenciados, diminui a quantidade de corridas possíveis e diminui o preço da corrida (devido à precificação dinâmica), impactando diretamente no faturamento bruto do “parceiro”.

Ouvi de mais de um motorista dizer que no início dava para ganhar mais dinheiro e que agora as coisas estão mais difíceis. Quem fazia R$ 8 mil agora faz R$ 6, por exemplo. E a tendência é diminuir ainda mais, haja visto a exponencialidade do crescimento da empresa.

Quando comparado com a jornada de trabalho normal um motorista de Uber X realizará aproximadamente R$ 12.000,00 bruto mensal, que descontado taxa do Uber, manutenção, combustível, impostos, depreciação não restará mais do que R$ 6.000 líquido. Acrescente a isso o fato do emprego oferecer 13º. salário, plano de saúde e férias e verás que o negócio não é tão bom assim – equivaleria a um salário de R$ 3.800,00. (Veja aqui as bases de cálculo)

Pode até parecer um bom salário, mas imagine quando for preciso fazer uso da franquia do seguro ou mesmo quando o carro ficar parado para reparos e manutenções. E conforme dito anteriormente, a tendência é a concorrência aumentar e o rendimento do motorista cair.

O outro lado

De fato, (1) o consumidor foi favorecido. No meu caso, por exemplo, uma corrida para o Aeroporto de Guarulhos com o Uber, fica na faixa de R$ 55,00, enquanto que o táxi comum está na faixa dos R$ 100,00 e o Guarucoop não sai por menos de R$ 135,00.

Viajo com muita frequência e costumo voltar as sextas-feiras muito tarde, por volta da meia noite. Sempre encontro grandes filas no táxi do aeroporto. São duas filas na verdade: uma para pagar e outra para pegar o carro. Já cheguei a ficar 30 minutos nessa espera. Ou seja, quem me cobra o maior preço é quem me oferece o pior serviço.

A qualidade do serviço é muito superior quando tratamos do Uber Black e relativamente superior quando falamos de Uber X. Digo relativamente pois vejo que o serviço de táxi na cidade de São Paulo é muito bom. Dificilmente encontramos taxistas mal-humorados ou mal-educados, o que não posso afirmar quanto a outras praças, como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde já tive muitos problemas com taxistas.

Outro ponto importante é que (2) subemprego é melhor que desemprego. Na atual situação do mercado de trabalho, o Uber aparece como uma boa fonte de trabalho e receita.

Por fim, entendo que (3) o grande problema reside na máfia que se formou em torno dos alvarás de licenças dos taxistas.

Conclusão:

A tecnologia, com suas infinitas possibilidades, está transformando o mundo. As regras criadas no passado não mais atendem as necessidades presentes e, principalmente, futuras. No caso dos Táxis, por exemplo, a regulamentação criada pela legislação e pelas secretarias de transportes foi necessária justamente para proteger os taxistas e os passageiros, legislando sobre preço, formação profissional, direção segura e rentabilidade da profissão. O que protegeu os taxistas no passado é o que está os asfixiando no presente – devido a todo o aparato regulatório eles não têm como reagir à concorrência.

O Uber descortina o momento de ruptura pelo qual estamos passando. É impossível se chegar a uma conclusão a respeito dessa situação – não dá para apoiar 100% nenhuma das partes, todas carregam consigo boas razões e algumas sacanagens.

O que acho que está acontecendo é que a tecnologia está colocando em cheque o atual sistema econômico. Ela está extrovertendo o grande conflito interno do ser-humano: ego x self. Como animais somos egoístas, mas como humanos somos altruístas.

Ainda não percebemos que: ser rico enquanto a maioria é pobre, não é tão bom assim; ser saudável enquanto a maioria adoece, também não é tão bom assim; ser culto enquanto a maioria é ignorante, também não é tão bom assim.

De maneira mais poética e artística lhes digo: o amor existe para nos ensinar essa lição, é só trocar a palavra “maioria” pela palavra “irmão” no texto acima. Vamos lá faça o teste. Não vou reescrever o texto, quero que você o releia substituindo as palavras conforme sugeri… insisto – não vou seguir com o texto enquanto você não o fizer!

E ai, que achou?

Mas dito de maneira mais técnica: é como propôs Thomas Friedman, jornalista norte-americano em seu livro: O Mundo é Plano. Estamos vivendo um conflito de papéis:
O João empresário que reside aqui dentro de mim não quer pagar impostos, quer pagar os menores salários e vender seus produtos e serviços pelo maior preço possível. O João consumidor que também reside aqui comigo, quer comprar os produtos e serviços mais baratos possíveis. Já o João funcionário, que também reside cá comigo, quer o maior salário possível, com os maiores benefícios e com menores impostos. Por fim, o João cidadão brasileiro, quer saúde, educação, transporte …

Quando vamos acordar para “o todo”? É chegada a hora de uma economia mais humana, uma economia de colaboração, com melhor distribuição do bem.