Estava conversando com um profissional que acabara de conhecer, e após nos aprofundarmos na recíproca apresentação curricular, sabendo que eu era da área de recursos humanos, mais especificamente atuando diretamente no mercado de trabalho, ele me disparou a seguinte pergunta:
– O que você me diz sobre a produtividade do brasileiro?
Fiquei sem resposta. Percebi que nunca tinha refletido muito sobre esse assunto. O máximo que chegara a abordar eram os excessos de reuniões, muitas vezes improdutivas, e o “caminhão” de burocracias. Resolvi então vasculhar um pouquinho a internet e escrever algo a respeito do assunto.
Primeiramente, temos que compreender que a produtividade de um trabalhador pode ser vista como a quantidade de bens ou de valor produzido, dividido pela quantidade de horas trabalhadas. É muito importante esclarecermos bem isso, pois dentro das minhas buscas, encontrei uma pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que aponta que o custo de mão de obra para produzir no Brasil subiu, o que não tem nada a ver com a produtividade do brasileiro e sim com o custo de produção, e gerou títulos de matérias e artigos como:
Trabalhador brasileiro tem a menor produtividade entre 12 países
Produtividade do brasileiro é a que menos cresce durante uma década
‘Economist’: Trabalhador brasileiro precisa sair de ‘letargia’ para economia crescer
Este último, o da Economist, diz que o brasileiro é preguiçoso e que só pensa em curtir a vida. Portanto, muito cuidado para não confundirmos custo da mão de obra com produtividade do trabalhador. Esta deve ser visto como: quantidade de homens/hora gasta para se produzir “x” Reais.
Desse modo, o melhor indicador que encontrei é o da Conference Board, organização americana que reúne cerca de 1.200 empresas públicas e privadas de 60 países, que apresenta a produtividade dos trabalhadores de um determinado país como sendo a razão do PIB, dividido pela quantidade de trabalhadores empregados.
Esse indicador, colocou nós brasileiros como 4 vezes menos produtivos do que o norte-americano, 2 vezes menos produtivos que os chilenos e 0,5 vezes menos produtivos do que os argentinos.
Pronto, está aí a resposta: O trabalhador brasileiro é muito improdutivo, 4 vezes mais improdutivo do que os Estadunidenses!
Não gostei da resposta, como também sou um trabalhador brasileiro vou tentar me defender:
A fórmula proposta tem em seu numerador o PIB, aumentando o PIB, aumentamos a produtividade do trabalhador. São diversos os fatores que impactam no PIB de modo que: alta carga tributária, juros altos, inflação, infraestrutura, regulamentação – afetam sobremaneira o produto dessa equação.
Falar de regulamentação nos leva à burocracia, que impacta nos dois lados do divisor (numerador e denominador), vejamos: a burocracia impacta negativamente no PIB, com PIB menor, menos empregos são gerados – o que já causaria o tal impacto duplo que aqui proponho, mas ainda tem um agravante, a burocracia também onera diretamente o custo da contratação de profissionais, portanto, ainda por cima desestimula a geração de empregos. É um efeito tríplice!
O mais interessante é que diminuir a burocracia exige baixo grau de investimento. Desburocratizar é delegar mais poder a outros atores, é otimizar os processos e procedimentos e informatizá-los. É só ver o que Jack Welch conseguiu ao conclamar uma verdadeira guerra contra a burocracia na GE.
Outro ponto muito discutido em relação ao impacto na produtividade é a tecnologia e inovação. Quanto mais as máquinas e os computadores nos ajudam a trabalhar maior é a nossa capacidade de produção no mesmo espaço de tempo, e ainda mais, menor é a quantidade necessária de empregados, causando assim outro impacto duplo (numerador e denominador).
Desse modo, podemos ver que quando estudamos a produtividade do trabalhador brasileiro este pouco tem de responsabilidade sobre a melhoria de seu desempenho, os fatores que mais pesam na equação são exógenos – tecnologia, recursos, sistemas, gestão.
Tem um fator que ainda não disse e que oferece algum peso à assunção da responsabilidade pela produtividade de nós trabalhadores: Educação. A educação, quando vista de forma macro, é de responsabilidade dos nossos governantes, que devem não só oferecer escolas, universidades e centros de pesquisas, como também fomentar que a iniciativa privada também ofereça.
É de responsabilidade dos governantes, das instituições de ensino e das empresas, garantir o devido alinhamento entre as competências necessárias ao mercado de trabalho e o que se ensina nas escolas – claro que as necessidades da sociedade como um todo também devem ser contempladas, mas meu foco aqui é mercado de trabalho.
As empresas também deveriam investir mais em treinamento, a diferença do gasto das empresas brasileiras em treinamento, comparado às empresas norte-americanas é muito grande.
Mas de forma “micro”, podemos dizer que nós todos somos responsáveis por nos desenvolvermos intelectualmente. Quanto mais domino os recursos dos computadores, gadgets, internet, redes e equipamentos, mais produtivo me torno. Quanto mais competências técnicas, gerenciais, estratégicas eu adquiro, mais produtivo fico.
O funcionalismo público no brasil é outro fator importante. Baixa tecnologia, poucos ou piores recursos ferramentais, estabilidade, benefícios diferenciados, também contribuem para puxar a produtividade do brasileiro para baixo.
Contraponto
Essa equação é muito cruel! Em seu denominador reside a quantidade de profissionais empregados, portanto, se diminuirmos a quantidade de pessoas empregadas e, pelo menos, mantivermos o PIB, aumentaremos o indicador de produtividade. E ainda pior: só posso aumentar a quantidade de empregados se obrigatoriamente aumentar o PIB, pois do contrário o índice de produtividade do trabalhador cairá.
A maioria dos fatores analisados não dependem diretamente de nós, profissionais. Nossa parte é: chegar no horário, matar quantos leões puder no dia, driblar a falta de recursos (material, pessoas, equipamentos) e chegar “vivo” em casa.
Isso me fez lembrar uma lição que aprendi com meu amigo Layzer Melo que dizia “não importa quantos leões você mata por dia, mas sim quantos elefantes indianos você produz”. Infelizmente meu amigo tem razão (não estou dizendo que ele gosta ou apoia isto, mas sim que ele, assim como eu, sofre com isso), muitas empresas prestigiam os maquiadores, políticos, sofistas, enganadores em detrimento dos profissionais produtivos, que mais se preocupam em realizar o trabalho do que ficar contando vantagem e fazendo campanha pelos corredores.
Proponho então uma nova fórmula para o cálculo da produtividade do trabalhador:
Referências:
Claudia Rolli e Álvaro Fagundes: Um trabalhador americano produz como quatro brasileiros. Folha de São Paulo, 31/5/15.
Pedro Cavalcanti Ferreira: Por que a produtividade do trabalhador brasileiro é tão baixa? Folha de São Paulo, 25/01/2015.
Editorial: Gazeta do Povo: A produtividade do brasileiro.
Ruth Costas: Entenda por que a produtividade no Brasil não cresce.
Nota Econômica: Industria brasileira perde competitividade há uma década. Informativo CNI, Ano 1, número 1, janeiro de 2015.