Mas é claro que existe “cura gay”!

Mas é claro que existe “cura gay”! E para provar isso vou lhes contar um caso real. Os nomes foram trocados para proteger a identidade dos envolvidos, afinal esse fato se deu em 2016, numa cidade do interior do estado de São Paulo.

José Carlos procurou ajuda do psicólogo devido a grande pressão que sua mãe, carola que era, lhe impunha. Alguns membros da família já sabiam de suas preferências, notava-se até mesmo alguns trejeitos. Mas o que todos temiam mesmo era seu pai, um senhor sério, calado, sisudo. Sempre se orgulhou do primogênito, herdeiro da família, herdeiro da virtude! E foi quando ele soube que José Carlos se viu obrigado a procurar pela cura!

Sua mãe ouvira de um pastor algo a respeito da cura para os “desvios” sexuais e seu pai tinha certeza de que isso tratava-se de problema de cabeça, e assim exigiram que José Carlos procurasse por ajuda profissional.

A sorte de José foi ter encontrado Nelson, um proeminente psicólogo apaixonado pela sexualidade humana. Nelson estava em meio a sua tese de mestrado, que tratava justamente dessa área de estudo – não que José tenha servido de “estudo de caso”, mas sim o quanto isso ajudou a curar-se.

Foram meses de terapia. Muitas conversas, e mais conversas. Por vezes essas conversas requeriam a presença da mãe, por vezes do pai, várias vezes de pai e mãe e assim os avanços prosseguiam de maneira firme e constante, mês após mês, sessão após sessão. Até que, 6 meses depois: A cura!

Os pais de José descobriram o quanto ele era importante para eles, o quanto eles se amavam. E indignaram-se sobre como puderam ter colocado esse amor em risco apenas por uma bobagem: preferência sexual! Eles agradeceram a Deus, e ao Nelson, por terem mostrado a eles que o “foco de desejo sexual de indivíduo” em nada importa para a predição de felicidade, estima, sucesso, desempenho, competências ou de “herança da virtude”!

Eles se abriram para uma nobre forma de amor, aquela em que a minha plenitude só acontece quando da plenitude daqueles que amo. Uma forma que suprime qualquer coisa que possa afetar o prazer de conviver, como família. Quem sabe uma família moderna, com: “homos e héteros”; com filhos, enteados e adotados; cunhados e ex-cunhados – família aquela que entende que “apaixona-se mesmo é por gente”, não por gênero – um amor tão humano, mas tão humano, que chega a ser assexuado.

Enfim, José, sua Mãe e seu Pai foram curados!

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Grande celeuma se deu essa semana a respeito desse assunto. Faço um alerta: cuidado com o que compartilha! Antes de compartilhar informações socialmente relevantes, certifique-se de que estudou todos os lados. Beba de boas fontes! Pois muita bobagem circulou nas redes.

Minha interpretação a respeito desse estardalhaço todo é que a liminar do Juiz Waldemar Cláudio de Carvalho não propõe cura gay alguma, outrossim salvaguarda o direito dos psicólogos de desenvolverem estudos, atendimentos ou pesquisas científicas a cerca sexualidade humana.

O conselho regional de psicologia (CRP) alega algo como: se não é uma patologia, não precisa ser estudado, pesquisado ou tratado – logo, afirmar o contrário seria assumir que é uma doença. O título da nota oficial do CRP emitida é: “Amor não é doença, é a cura” – concordo plenamente, está faltando apenas acrescentar que “sexualidade não é amor”. Qual a maior forma de amor que conhecemos? Para mim é o materno – realmente acho isso não tem nada a ver com sexo!

Definitivamente preferência sexual não é doença! mas daí a negar estudos científicos a respeito do assunto é retrocesso. Quanto podemos aprender sobre o convívio social ou os conflitos psicológicos em uma sociedade diversificada? E quanto ao excelente papel desempenhado pelo nosso amigo Nelson? Somos todos iguais, porém tempo diferentes!

Temos que considerar também outras coisas envolvidas como, por exemplo: violência, preconceito, desrespeito de direitos, falta de direitos, ética no exercício da psicologia… Isso tudo é louvável! E essa é a parte boa da celeuma!

Eu fico com o Magistrado, pois acho que ele elevou o pensamento um nível acima do CRP, considerando o assunto como sendo da “sexualidade humana” e não de gêneros e seus apetites sexuais!

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Mas, minha opinião pouco importa, convido você a criar a própria:

E para saciar sua vontade dá uma olhadinha nas manchetes que circularam. Veja o nível de sensacionalismo e descompromisso com a verdade, afinal, nenhum Juiz autorizou “cura gay”alguma!

Juiz que autorizou “cura gay” diz que decisão teve interpretação “equivocada”

‘Cura gay’: Conselho de Psicologia recorre da decisão que liberou tratamento da homossexualidade

 

Mas que diabos andas fazendo?

Hoje recebi logo pela manhã o texto “A caminho do brejo” da Cora Ronái no O Globo – recomendo a leitura. Trata-se daqueles artigos que incitam as pessoas a reagirem, a não se conformarem com o status quo, a lutarem por um Brasil melhor. Ela questiona nossa inércia e nossa capacidade de se conformar, aceitando barbaridades como fatos corriqueiros – por tanto lermos, ouvirmos e assistirmos nos jornais e redes sociais.

Concordo com ela, e isso me incomoda muito! Acredito que incomode a todos nós, povo honesto e trabalhador. Se não posso falar por todos, posso falar por mim: meu sentimento é de impotência, afinal, o que poderia eu fazer para ao menos ajudar a mudar um pouquinho nosso país? Quer que eu saia às ruas? Quer que eu saia por aí compartilhando posts de condenações, de agressões a partidos políticos, ideologias, figuras públicas? Não acredito que esse seja o melhor caminho, mas confesso que o faço. Fui as ruas pedir o impeachment e compartilho informações (desde que seguro em relação à fonte) a respeito de bandidos do colarinho branco e de figuras impudicas (pelo menos sob meu ponto de vista).

Acredito que essas estratégias são necessárias, pois ajudam a aumentar ainda mais o desconforto e deixam os tementes com “as barbas de molho”. Mas, ao mesmo tempo, geram muita angustia e ansiedade -um sentimento de impotência – o que pode levar-nos a atitudes como: 1) é assim, sempre foi assim e não há nada que possamos fazer. São aquelas frases do tipo: “a culpa é do Cabral” (neste caso estou me referindo ao navegador, caso fosse o governador a culpa realmente seria dele); “a corrupção começa com você, que até hoje não devolveu o livro da biblioteca”; “você que compra seguidores no Instagram”; ou 2) “já que é assim mesmo, vou procurar uma ‘tetinha’ para mamar também”, “se eles podem, também posso” – levando as pessoas a prática de condutas desonestas.

Por isso a pergunta do título: que diabos você anda fazendo da sua vida?

A melhor ação para essa situação é ajudar aqueles que estão à sua volta, por exemplo: meu pai batalhou muito para educar 3 filhos, resultando na criação de 3 adultos (ou mais, afinal, assim fazendo, muito provavelmente influenciou outros a sua volta) capazes de contribuir positivamente para com a sociedade através do trabalho e da geração e transferência de valores (materiais e morais) e nós, seus filhos, estamos repetindo o padrão, envolvendo agora não mais 3 seres, e sim 11. Parece ser um bom começo, não? principalmente porque, quando falo “ajudar”, me refiro à proporcionar condições favoráveis de desenvolvimento do próximo. Disso todos nós somos capazes e muitas vezes não nos custa mais do que tempo!

Isso tudo me faz lembrar daquele filme: “corrente do bem”, em que uma criança propõe que cada pessoa ajudasse outras três pessoas, criando assim uma onda altruísta. Então me diga: a quem vai ajudar hoje? Quem você ajudou ontem? Tem gente que diz que colar na prova, ocupar o assento exclusivo para idosos, forjar atestado são atos de corrupção, no entanto, as vezes se esquecem que: incentivar alguém a estudar, orientar o funcionário quanto a seu desenvolvimento, elogiar os acertos e qualidades – são atos de honradez!

Chega! Não quero mais ser feliz no trabalho

Sempre defendi e propaguei as ideias (ideais) sobre felicidade no trabalho, mas hoje quero oferecer um contraponto!

O que acontece na verdade é que me cansei de tanta poesia sobre o assunto. Eu mesmo sou autor de várias:

“… é importante compreender bem os seus desejos e as suas reais necessidades, aquelas que vêm do coração. Não podemos esquecer que o trabalho nos dá o senso de pertencimento, de utilidade e de importância na construção de algo maior. E essa sensação de importância, de fazer a diferença, com certeza contribui para alcançar a tão sonhada felicidade”- Felicidade e trabalho, João Xavier, novembro de 2011 – disponível em: www.ricardoxavier.com.br

“Podemos (e devemos) desejar muito, desejar alto ou até mesmo desejar sublime – isso com toda certeza produzirá energia e força. Mas, para não ficarmos presos na armadilha de um “querer sem fim” temos de lembrar que a felicidade está na jornada e não do objetivo”. O trabalho e os dias, João Xavier, novembro de 2016 – disponível em: www.joaodequeirozxavier.com.br

“Muitos já vivem essa plenitude. É o caso de professores, pesquisadores, arquitetos, programadores – todos que trabalham com criação vivem nesse mundo, afinal, quantos insigths não acontecem no banho, no sonho, no ônibus – de modo que a pessoa não sabe ao certo se ela está trabalhando, se divertindo, estudando, se cuidando. Plenitude no trabalho, João Xavier, abril 2016 – disponível em www.joaoqueirozxavier.com.br

Mas agora chega! É preciso dizer que não há espaço para todos serem felizes no trabalho. Sempre alguém precisará fazer o “serviço sujo”. Todo mundo quer fazer o que gosta, todo mundo quer deixar um legado, todo mundo quer ser chefe… acontece que para conseguir isso é preciso muito empenho, muita mão na massa, muito suor! E poucos estão dispostos a pagar o preço.

Outro ponto importante é que sempre (com raríssimas exceções) o resultado financeiro está diretamente ligado ao empenho exercido. É muito difícil encontrar alguém que trabalhe pouco e ganhe muito. Quando me deparo com casos assim, rapidamente identifico o quanto de dedicação foi empenhada no passado de modo a poder gozar disso no presente.

A ideia que tem circulado é que qualquer um pode ficar rico a partir da garagem da casa da mamãe, mas não é bem assim que funciona (recomendo a leitura da Biografia de Steve Jobs para constatação “dos preços” que ele pagou para conquistar o que conquistou). Sem falar que mais difícil do que conquistar é manter (ou aprimorar).

De qualquer forma, tenho agora que deixar minha realização profissional (o meu legado) autoral e voltar para os maçantes relatórios com prazos a entregar.

Aquilo que nunca te falaram sobre a Uber (Atualização)

Atenção: Você está diante de um dos melhores artigos por mim publicados. Para não soar arrogante: não quero dizer que o artigo é bom, mas sim que, dentre os meus, é um dos melhores. Faço esse alerta por dois motivos (1) o artigo é longo, mas vale a leitura, e (2) acabo de atualizá-lo – ele foi originalmente publicado em março de 2016, mas diante de tantas mudanças foi necessária uma nova edição – todas as atualizações estão sinalizadas.

Antes que esse artigo gere qualquer tipo de polêmica a respeito da Uber, quero deixar bem claro que não tenho nada contra a empresa ou seus serviços prestados. Usei e uso seus serviços sempre que necessário.

  • Atualização (Abr/2017): Não sou contra a entrada da Uber, muito pelo contrário, sou a favor da livre-concorrência. Mas o assunto é por demais complexo, envolve questões como: máfia dos alvarás, sindicatos, legislação, tecnologia … Por isso, minha singela proposta com este artigo é ampliar nossa visão e, consequente reflexão, sobre o assunto.

Tenho percebido certo glamour em se defender o serviço da  Uber. É como se quem defendesse os taxistas fosse retrógrado ou analfabeto tecnológico, no entanto, vejo algumas questões importantes que estão passando despercebidas pelos “fãs” do novo aplicativo. Aliás aqui já reside um ponto: (1) estão vendendo a empresa como se fosse uma empresa de tecnologia e que seu serviço nada tem a ver com o serviço de táxi – como se fosse apenas um aplicativo. Tenham certeza de uma coisa: trata-se de uma empresa, muito grande por sinal, e que se seus serviços não concorrem diretamente com os serviços de táxi, os de seus “parceiros” sim, concorrem diretamente.

  • Atualização (Abr/2017): Esse glamour todo se acabou. Seus motoristas reclamam da pouca lucratividade, a qualidade dos carros (e atendimento) despencou, afinal, os melhores profissionais abandonam a Uber na primeira oportunidade de emprego que aparece, e problemas com a segurança tem sido destaque na imprensa.

(2) O Serviço é tecnicamente ilegal e foi proibido em países como França, Itália, Alemanha e muitos outros. E por possuir apenas uma forma de pagamento (cartão de crédito) fere o nosso código de defesa do consumidor.

  • Atualização (Abr/2017): O aplicativo já oferece o pagamento em dinheiro. Na Franca a briga está muito boa e tem condenado a Uber a pagar multas milionárias e na Itália a proibição acaba de ser suspensa – mas a briga ainda continua pela Europa.

Antes da Uber, qualquer motorista que se propusesse a transportar passageiros recebendo algo em troca por isso era considerado transporte pirata. Como que num passe de mágica, depois da criação de um aplicativo, esse tipo de proposta se transformou em “carona compartilhada” ou mesmo em um serviço legal. Mas o que mudou na natureza dessa prestação de serviço para que o transformasse em algo legal? Nada! O mais interessante é que, por exemplo, prostituição não é crime, mas agenciar pessoas para esse tipo de “relação” o é. Pensando agora em Uber, uma atividade que já constituía-se como ilegal (o transporte clandestino de passageiros), depois de surgir um “agente” intermediador torna-se então lícita!?!

Duas grandes lendas surgiram: (3) o serviço é mais barato e (4) a qualidade é excelente.

O que acontece é que na interação: serviço x qualidade o preço é igual ou superior ao do táxi. A Uber tem dois serviços distintos: o Uber X e o Uber Black. O primeiro com a proposta de baixo preço e o segundo com a proposta de excelência no serviço, mas acontece que sua mensagem de marketing mostra como se essas duas características acontecessem simultaneamente, o que não é verdade – “vendem” a imagem do táxi preto, banco de couro, spotify – o que só acontece com o Uber Black. Além do mais, o preço é variável, existe um fator de correção (preço dinâmico) que ajusta o valor da corrida conforme a oferta e procura, portanto, em horários ou locais com maior procura o preço aumenta, de modo a não ser uma alternativa sempre mais barata (importante ressaltar que independente da dinâmica do preço, este é sempre previamente estimado quando da solicitação da corrida).

  • Atualização (Abr/2017): A qualidade do Uber-X caiu muito. Tem muitos carros velhos, motoristas despreparados e até mal-educados (já tive que pedir para que ligasse o ar-condicionado).

Aproveitando que estamos falando de qualidade, outros dois fatores (que inclusive já aconteceram comigo) interferem sobremaneira na experiência do usuário, a saber: (5) os motoristas podem escolher a corrida – é bastante desagradável encontrar um carro disponível à 10 – 15 minutos de distância. Sem falar quando após 1 minuto da solicitação você descobre que o motorista “sumiu”. E (6) muitos motoristas não são conhecedores da cidade de São Paulo e acabam por errar ou fazer piores caminhos (isso já aconteceu comigo duas vezes).

Estratégias e Posicionamento de Marketing

A empresa joga pesado (7), para não dizer sujo, em suas estratégias de marketing. Seus motoristas não estavam (e ainda estão) muito satisfeitos com a política de 15% de desconto (que já perdurava há 3 meses) adotada para ganhar mais clientes.

  • Atualização (Abr/2017): Essa política de desconto ainda perdura. A insatisfação dos motoristas é tão grande que já estão se organizando, promovendo manifestações e até greves. Muitos motoristas descredenciados estão entrando na justiça do trabalho e já há relatos de ganho de causas.

Grande verbas são destinadas a programas como: primeira corrida de graça, ganhe chope de graça em bares ao ir de Uber, dentre outras campanhas. Eles investem muito em influenciadores nas redes sociais e Youtube. Há quem diga até sobre falsos ataques de taxistas, o que não chego a acreditar, mas tenho a certeza do forte empenho por parte da empresa em viralizar ou exagerar os incidentes ocorridos e minimizar ou abafar as mídias que explicam sobre a (8) concorrência desleal, por exemplo.

Não há como negar a concorrência desleal! O mesmo serviço é oferecido e por preços (no caso do Uber X) consideravelmente menores – sem falar nessas campanhas que facilmente poderiam ser consideradas com prática de dumping.

O problema é que os taxistas não exercem poder diretamente na precificação de seus serviços – quem cuida disso são as Prefeituras, através de suas Secretarias de Transportes, portanto, os motoristas de táxis estão de mãos atadas.

  • Atualização (Abr/2017): Na verdade os taxistas não fazem pressão alguma no sentido de baixarem seu preço. Sempre digo: se o táxi fosse apenas 10%, quem sabe até 20% mais caro, em alguns casos. Com toda certeza eu optaria na maioria das vezes pelo Táxi! A frota de táxi de São Paulo e até mesmo a de Salvador não estão sucateadas. Claro que há casos de carros ruins, mas a maioria são carros com até 3 anos de vida, prazo pelo qual o taxista pode adquirir outro veículo com a isenção de impostos.
  • Tenho visto pressão de sindicatos de taxistas pedindo pela regulamentação da atividade do Uber, alegando concorrência desleal, quando na verdade acredito que eles deveriam buscar igualdade de direitos só que desregulamentando o Táxi.

Subemprego

Vou finalizar minhas críticas com o ponto que mais me incomoda e que diz respeito a minha área de atuação: a Uber é para mim considerado (9) subemprego!

A empresa cobra 20% de todo o resultado de seus motoristas (o que para mim é uma taxa absurda) e é ela que dita os valores das corridas. Os custos (gasolina, manutenção, depreciação, pedágios, impostos) são todos de responsabilidade do motorista. Eles “vendem” a ideia de que você pode ganhar 7, 11, 15 mil Reais, mas não falam que isso só é possível com o Uber Black (que exige um carro padrão corola) ou trabalhando mais de 12 horas por dia. E o mais importante: a renda dos motoristas está diminuindo, isso porque no início havia menos carros. Na medida em que aumenta a quantidade de motoristas credenciados, diminui a quantidade de corridas possíveis e diminui o preço da corrida (devido à precificação dinâmica), impactando diretamente no faturamento bruto do “parceiro”.

Ouvi de mais de um motorista dizer que no início dava para ganhar mais dinheiro e que agora as coisas estão mais difíceis. Quem fazia R$ 8 mil agora faz R$ 6, por exemplo. E a tendência é diminuir ainda mais, haja visto a exponencialidade do crescimento da empresa.

Quando comparado com a jornada de trabalho normal um motorista de Uber X realizará aproximadamente R$ 12.000,00 bruto mensal, que descontado taxa do Uber, manutenção, combustível, impostos, depreciação não restará mais do que R$ 6.000 líquido. Acrescente a isso o fato do emprego oferecer 13º. salário, plano de saúde e férias e verás que o negócio não é tão bom assim – equivaleria a um salário de R$ 3.800,00. (Veja aqui as bases de cálculo)

  • Atualização (Abr/2017): Esqueçam essa base de cálculo. Não precisamos mais. Já temos muitos depoimentos de motoristas informando uma receita média líquida semanal de R$ 750,00 -, logo, aproximadamente R$ 3.000,00 por mês. Mas tem um grande detalhe, nessa conta não está a depreciação do veículo. Portanto, o motorista tem a percepção de um lucro de 3 mil, quando na verdade, excluindo a deprecação, seu lucro é próximo dos 2 mil.

Pode até parecer um bom salário, mas imagine quando for preciso fazer uso da franquia do seguro ou mesmo quando o carro ficar parado para reparos e manutenções. E conforme dito anteriormente, a tendência é a concorrência aumentar e o rendimento do motorista cair.

O outro lado

De fato, (1) o consumidor foi favorecido. No meu caso, por exemplo, uma corrida para o Aeroporto de Guarulhos com a Uber, fica na faixa de R$ 55,00, enquanto que o táxi comum está na faixa dos R$ 100,00 e o Guarucoop não sai por menos de R$ 135,00.

Viajo com muita frequência e costumo voltar as sextas-feiras muito tarde, por volta da meia noite. Sempre encontro grandes filas no táxi do aeroporto. São duas filas na verdade: uma para pagar e outra para pegar o carro. Já cheguei a ficar 30 minutos nessa espera. Ou seja, quem me cobra o maior preço é quem me oferece o pior serviço.

A qualidade do serviço é muito superior quando tratamos do Uber Black e relativamente superior quando falamos de Uber X. Digo relativamente pois vejo que o serviço de táxi na cidade de São Paulo é muito bom. Dificilmente encontramos taxistas mal-humorados ou mal-educados, o que não posso afirmar quanto a outras praças, como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde já tive muitos problemas com taxistas.

Outro ponto importante é que (2) subemprego é melhor que desemprego. Na atual situação do mercado de trabalho, a Uber aparece como uma boa fonte de trabalho e receita.

Por fim, entendo que (3) o grande problema reside na máfia que se formou em torno dos alvarás de licenças dos taxistas.

Conclusão:

  • Atualização (Abril/2017): Se os taxistas tivessem se empenhado em baixar sua tarifa (10-20%) e melhorar a qualidade do atendimento (veículo, tecnologia e educação dos motoristas) em vez de brigarem e exigirem regulamentação da Uber, com certeza hoje estariam em melhores condição de competição.

A tecnologia, com suas infinitas possibilidades, está transformando o mundo. As regras criadas no passado não mais atendem as necessidades presentes e, principalmente, futuras. No caso dos Táxis, por exemplo, a regulamentação criada pela legislação e pelas secretarias de transportes foi necessária justamente para proteger os taxistas e os passageiros, legislando sobre preço, formação profissional, direção segura e rentabilidade da profissão. O que protegeu os taxistas no passado é o que está os matando no presente – devido a todo o aparato regulatório eles não têm como reagir à concorrência.

O Uber descortina o momento de ruptura pelo qual estamos passando. É impossível se chegar a uma conclusão a respeito dessa situação – não dá para apoiar 100% nenhuma das partes, todas carregam consigo boas razões e algumas sacanagens.

O que acho que está acontecendo é que a tecnologia está colocando em cheque o atual sistema econômico. Ela está extrovertendo o grande conflito interno do ser-humano: ego x self. Como animais somos egoístas, mas como humanos somos altruístas.

Ainda não percebemos que: ser rico enquanto a maioria é pobre, não é tão bom assim; ser saudável enquanto a maioria adoece, também não é tão bom assim; ser culto enquanto a maioria é ignorante, também não é tão bom assim.

De maneira mais poética e artística lhes digo: o amor existe para nos ensinar essa lição, é só trocar a palavra “maioria” pela palavra “irmão” no texto acima. Vamos lá faça o teste. Não vou reescrever o texto, quero que você o releia substituindo as palavras conforme sugeri… insisto – não vou seguir com o texto enquanto você não o fizer!

E ai, que achou?

Mas dito de maneira mais técnica: é como propôs Thomas Friedman, jornalista norte-americano em seu livro: O Mundo é Plano. Estamos vivendo um conflito de papéis:

O João empresário que reside aqui dentro de mim não quer pagar impostos, quer pagar os menores salários e vender seus produtos e serviços pelo maior preço possível. O João consumidor que também reside aqui comigo, quer comprar os produtos e serviços mais baratos possíveis. Já o João funcionário, que também reside cá comigo, quer o maior salário possível, com os maiores benefícios e com menores impostos. Por fim, o João cidadão brasileiro, quer saúde, educação, transporte …

Quando vamos acordar para “o todo”? É chegada a hora de uma economia mais humana, uma economia de colaboração, com melhor distribuição do bem.

Beleza e mercado de trabalho

Ontem participei de uma matéria da rede Record que abordava o tema dos efeitos da beleza nos processos seletivos, baseando-se em uma pesquisa da Elancer, intitulada: “Empresas evitam contratar profissionais com beleza acima da média”.

O interessante é que apesar da pesquisa apenas relatar os resultados apurados, a imprensa cuidou de criar grande especulação sobre os porquês dos dados. Vejamos:

A pesquisa apurou que:

  • 46% dos recrutadores entrevistados preferem contratar profissionais com a aparência mediana;
  • 2% procuram por profissionais de beleza acima da média e;
  • 1% declarou procurar profissionais feios.

Esses dados foram suficientes para criar uma celeuma sobre as razões pelas quais um recrutador, ou um contratante, preteririam um candidato muito bonito. Dois fortes argumentos foram levantados:

  1. O recrutamento é realizado em sua grande maioria por mulheres, solteiras e com idade média de 29 anos.
  2. A direção de algumas empresas acredita que pessoas bonitas provocam distrações.

Esses dois argumentos já são mais do que suficientes para constatar que estamos tratando de um preconceito, pode parecer estranho – um preconceito com pessoas bonitas!? Mas sim, é uma concepção antecipada de juízo. O critério “beleza” deveria ter maior peso em processos de seleção de modelos, por exemplo. Em áreas como atendimento ao cliente, vendas, promoção, relacionamento, a beleza até pode interferir, mas ainda assim, fatores como: oratória, postura corporal, bagagem cultural/educacional, decoro – devem vir primeiro.

Já que estamos falando de preconceito, foi inclusive sugerido nas matérias que também se tratava de um aspecto cultural oriundo da crença de que se a pessoa é bonita, é burra – Mais um tremendo absurdo.

As distrações sugeridas no item 2 parecem estar relacionadas a atração física/sexual, sugerindo que as pessoas costumam desviar sua atenção do trabalho para a beldade (começo a achar que é melhor demitir os distraídos e contratar quem detém suma-beleza). Mas há casos reais em que gestores evitam a contratação. Talvez por conhecerem suas fraquezas ou mesmo o nível de ciúmes de seus parceiros. Nós mesmos já tivemos um caso em que a cliente exigiu que não contratássemos pessoas muito bonitas ou vistosas. Era para uma vaga de assistente de diretoria e a contratante era nada menos que a esposa do diretor requisitante.

Mas o que mais me chamou a atenção mesmo foi o primeiro item, que sugere uma “rivalização” feminina, onde recrutadoras não aprovariam aquelas mais belas do que elas. Acreditar que esta seja a razão por trás dessa forma de preconceito é acreditar que este só acontece com as mulheres, e o que é pior: é afirmar que as mulheres estão tendo preconceito com as próprias mulheres!  Tenho mais de 10 anos de experiência nesta área. Já estive a frente de equipes grandes de recrutadoras e nuca sequer ouvi falar disso! Das duas uma, ou eu “vivia no mundo de Alice” ou essa suposição é completamente equivocada.

De qualquer forma, que fique bem claro: seleção de profissionais deve se basear primordialmente em: conhecimentos, habilidades, atitudes e resultados. Os outros critérios, sejam eles quais forem, devem ficar em segundo plano, e seu julgamento, bastante cauteloso.

Lidando com os boatos nas organizações

Sempre tive certa fascinação pelos boatos. É curioso observar a velocidade com que ele circula e deleitante recebê-lo em seus ouvidos, isso porquê os boatos circulam apenas entre aqueles que são dignos de confiança. Exatamente! Ouvir um boato, assim como propagá-lo, gera senso de pertencimento.

Sua velocidade está diretamente ligada à eficiência da rádio-peão, ou rádio-corredor, como também é conhecida. É a famosa comunicação de boca em boca, que costuma ser muito mais eficiente do que os avisos, informes e comunicados – das mais diversas mídias, como: intranet, murais, memorandos, e-mails. E aqui reside outra fonte do meu fascínio: o boato é orgânico – ele é formado naturalmente a medida em que circula estimulando ouvidos, provocando línguas e abrindo bocas.

Em sua origem, do Latim boatus, “mugido, grito”, de bos, “boi”, o boato assume um significado de notícia propagada, gritada aos 4 cantos – hoje, em sua forma mais potente: viralizada! Até este ponto da história o boato estava imaculado, ou seja, não se tratava de mentiras, maledicências ou fontes obscuras ou informais – quando muito: notícia sem importância. Mas hoje o boato assume um significado de notícia fantasiosa, infundada, informal.

É importante diferenciarmos algumas coisas:

Boato x fofoca

Fofoca: normalmente trata de pessoas, enquanto que os boatos tratam de notícias, eventos, acontecimentos. A fofoca costuma carregar consigo uma boa dose de maldade, já o boato dificilmente o faz, afinal, como já dito ele é orgânico, logo, só terá maldade se esta for a vontade do “grupo-fundador” – é também possível “plantar” um boato, neste caso, passível de maldade ou obtenção de vantagens. Desse modo, são raros os boatos que se tratam de fofocas, já a maioria das fofocas tratam-se de boatos. A fofoca dificilmente trata de mentiras, quando muito: enganos ou exageros – mas em sua maioria é apenas o deleite para com a desgraça, graça ou estupidez alheia[1].

Boato x mentira

Mentira: a mentira é algo totalmente intencional! É faltar com a verdade. Com toda certeza carrega consigo a maldade, omissão, dissimulação ou vantagens. Já o boato nunca se preocupa com a veracidade da informação. Sua maior preocupação parece estar na velocidade da divulgação – pouco importa se o que estou transmitindo é verdade ou mentira, estou apenas “vendendo o peixe pelo preço que comprei”, não é assim que dizem?

É nesse ponto que entra a importância do assunto para o contexto organizacional: ao lidar com um boato pouco importa se é este é mentira ou fofoca, o que mais importa é o impacto que causa no comportamento das pessoas.

Vejamos alguns exemplos:

Boato + mentira:

Se um boato é também uma mentira, as pessoas passarão a se comportar como se a mentira fosse verdade – algo bastante danoso, não é mesmo? Por exemplo: um boato sobre a substituição de um diretor pode alterar significativamente a dinâmica da arena política da organização. Alguns funcionários se sentirão inseguros em relação ao novo diretor, outros começarão a “mostrar mais serviço”, outros atualizarão o currículo … mas o mais curioso deste tipo de situação é que está é a mais fácil de resolver: basta apenas comunicar formalmente e de forma eficiente a verdade. Fazendo assim, o boato simplesmente desaparece!

Boato + mentira + fofoca

Assim como no caso anterior a “cura” é bastante simples e, se adotada de maneira eficaz, extingue o mal pela raiz. A questão passa ser a velocidade com que o boato é desfeito. E isso envolve não só a velocidade com que se realiza a comunicação da verdade, mas principalmente a velocidade com que se descobre a existência do boato. E aqui vai o alerta: quanto maior o nível hierárquico, pior a sintonia da rádio-peão! Por isso que gosto de fazer passeios pelos cafés e corredores das empresas, lá não só a sintonia é melhor, como também o volume.

Boato

Agora vêm os casos mais difíceis, quando boato se apresenta em sua forma mais genuína, qual seja: tratando-se da verdade antecipada por colegas mais influentes que proporcionaram alguns vazamentos (seletivos ou não; intencionais ou não – muitas vezes o comportamento dos diretores indica claramente o que está acontecendo). Por exemplo: a alta direção da empresa resolveu abandonar determinado segmento (ou produto) do mercado. Com isso, algumas pessoas e alguns departamentos deixarão de ter funcionalidade, logo, transferências e demissões serão feitas. Algumas pistas são facilmente decifradas pelos demais funcionários, como: corte de verba, demora na resposta de e-mails, redução da quantidade de reuniões, enfim, as pessoas envolvidas neste segmento (ou produto) conseguem perceber com facilidade as mensagens subliminares.

O problema é que enquanto não se extirpa o boato, comunicando de uma vez por todas o que está acontecendo e como será feita a transição, o medo e a insegurança tomam conta do clima da organização – pessoas não diretamente afetadas pela situação poderão se preocupar mais do que o necessário e até algumas pessoas diretamente impactadas poderão ser pegas de surpresa! O fato é que, com toda a certeza a produtividade (mesmo em áreas pouco impactadas) cairá.

Solução? Mais uma vez: dizer logo a verdade! O ponto principal passa a ser a velocidade da estruturação e implementação das ações da mudança, de modo a poder comunicá-las o mais rápido e com a maior transparência possível.

Boato + fofoca

Sempre guardo o melhor para o final. Imaginemos agora uma situação onde o boato é também uma fofoca e ainda por cima trata-se de verdade. Um exemplo levemente frequente: dois colegas de trabalho estão tendo um caso, sendo que um deles é casado. Essa situação se agrava ainda mais se houver relação de subordinação entre eles. De qualquer forma, em ambos os casos os possíveis danos são previsíveis: desrespeito, insinuações, piadinhas, insubordinações – com consequente influência no clima, processos de trabalho e na produtividade.

E agora, como proceder neste caso? Só tem uma maneira: dizer a verdade! O ponto principal nesse tipo de situação é que a verdade, teoricamente, não pode ser dita, correto? Sim, mas não há alternativa: assume-se logo o relacionamento ou convive-se com o boato enquanto o relacionamento durar.

Essa é uma situação bastante espinhosa e que costuma acabar em demissão e/ou divórcio. A organização não pode permitir que os efeitos danosos deste boato se instalem e, como a empresa não deve interferir em assuntos de relacionamentos pessoais, muitas vezes a demissão é a solução para o caso.

Claro que a situação ficaria mais branda se neste exemplo nenhum dos dois fosse casado, pois aí caberia apenas avaliar os impactos do relacionamento nos processos de trabalho e desempenho da equipe, mas essa nova hipotética situação teria muito menos chance de se tornar um significativo boato! Por isso preferi apimentar o exemplo.

Conclusão

A melhor maneira de se enfrentar um boato é simplesmente dizer logo a verdade! Se o boato estiver fundamentado em uma mentira, só a rápida apresentação da verdade poderá extingui-lo. Se estiver fundamentado na verdade, a questão é: por que a formalização da verdade ainda não foi feita? Muito provavelmente por estratégia da alta direção da empresa – normalmente porque a empresa ainda não está devidamente preparada para enfrentar os impactos do “evento” nos funcionários, mercado, concorrentes ou clientes. Neste é preciso avaliar qual o menor custo: antecipar a verdade ou conviver com o boato – de qualquer modo, apressar o planejamento e execução de ações de reparo (ou mesmo preparo) dos impactos do “evento” é a ordem do dia.

[1] Para saber mais sobre fofoca nas organizações leia: Fofoca: veneno que circula nas organizações

A minha carne é fraca

Atenção! Este não é mais um artigo sobre a tal operação da polícia federal, mas sim sobre as reverberações deste tipo de acontecimento. Estamos todos espantados como as coisas repercutem nos tempos de internet e redes sociais. Já nem assustamos mais com a velocidade, o que mais nos assusta é como surgem opiniões tolas, loucas, ignóbeis dos mais diversos tipos de pessoas – todas se julgando especialistas.

Nossa primeira reação é culpar o Facebook, as emissoras e a internet, mas atenção: a culpa não é delas! Elas estão apenas “esfregando” o espelho na nossa cara, mostrando-nos nossas imperfeições. Aqui mesmo já podemos ver uma delas: responsabilizar os outros pela nossa desgraça.

As redes sociais deram voz a qualquer pessoa. Qualquer um pode divulgar sua opinião sobre qualquer assunto. E aqui está outra imperfeição humana – o pedantismo (demonstrar conhecimentos que não possui; ostentar cultura, erudição)

Se pararmos para pensar: sempre foi assim. Lembra-se dos tempos de escola? Em 1980, um primo de um amigo da minha tia disse que faziam salsicha com jornal. Sempre tinha os entendidos do assunto! Seja no futebol, na religião, nas modinhas adolescentes. Era importante demonstrar conhecimento, isso gerava reconhecimento e pertencimento – isso é humano. Além do mais, é importante ser ouvido, é importante expressar opiniões e sentimentos: o problema é que todo mundo quer falar, mas ninguém quer ouvir!

Temos vários exemplos para pegarmos como estudo de caso: lava-jato, carne fraca, mensalão, Donald Trump – mas quero refletir um pouco sobre a carne fraca, pois esta não envolve partidos políticos, apesar de haver compartilhamentos dizendo o contrário, que por sorte não emplacaram (acho que desta vez a culpa não foi do FHC).

Encontrei algumas reverberações sobre a carne fraca:

  • Culparam o Tony Ramos, Fátima Bernardes e o Roberto Carlos;
  • Disseram que o Lulinha é um safado;
  • Os Estados Unidos estão por de trás dessa operação, com o objetivo de minar nossas exportações;
  • Nossa carne é imprópria;
  • 752.922 piadas e memes (apurados até o encerramento deste artigo)
  • Nossa polícia federal é pirotécnica, espetaculosa;
  • A Rede Globo está lucrando com os anúncios.

Muitas opiniões se formaram a respeito do tema, muita m*#@ para nossos ouvidos. Muitos entendidos do assunto! Por Deus! É tão difícil formular uma opinião. Mais difícil ainda: se manter fiel a ela! Sou mais Raul Seixas com a sua metamorfose ambulante. A medida em que as coisas evoluem, neste caso, a medida em que os fatos aparecem, o julgamento é afetado.

Só consigo pensar em duas razões para alguém sair palestrando besteira sobre algum assunto: ignorância ou má fé! E uma horda de ignorantes ou massa de manobras compartilha tais bobagens. Já chamei a atenção sobre os impactos compartilhar as coisas sem saber (ou mesmo sem ler/ver), não faça parte deste ingrato grupo (veja em: “Só acredito vendo” e “Avalanche de informações”).

Quer saber a minha opinião sobre o episódio? Se a resposta for sim, leia o parágrafo abaixo, do contrário, passe diretamente ao seguinte.

Vejo esta operação com naturalidade. A indústria alimentícia trabalha duro para a qualidade dos seus produtos. Ela sabe o impacto que um produto estragado ou adulterado pode causar na sua marca. Pior ainda: o impacto de algum problema de saúde em seus consumidores. Ao mesmo tempo, esta mesma indústria trabalha duro para se manter no mercado: enfrentar concorrentes, gerar lucro. Por vezes alguns profissionais são pressionados ou tentados a praticar ações ilícitas ou inescrupulosas para obter vantagens ou manterem-se no emprego. Para isso temos órgãos responsáveis por examiná-las e creditá-las. O problema é que esses órgãos também têm profissionais pressionados e tentados a praticar esses mesmos atos. E no final das contas, quem devia nos proteger, protege a si mesmo. O problema é que no Brasil parece haver grande quantidade desses profissionais. Será verdade? Acredito que sim, mas tenho certeza de que é menos do que pensamos, afinal, quando falta caráter: manchete em jornais e grande repercussão nas redes; mas quando ocorre um bom gesto: pouco se fala! Alguém reparou que pouco destaque se deu ao funcionário honesto do Ministério que denunciou o esquema? Esse é o meu herói! O problema parece estar mais ligado a política e a corrupção do que a segurança alimentar.

Minha opinião está baseada em duas fontes:

  1. Papelão e substância cancerígena ou exagero? O que se sabe – e o que é dúvida – na Operação Carne Fraca” – BBC Brasil;
  2. Carne Fraca é a nova Lava Jato, diz fiscal que denunciou esquema de venda de carne adulterada” – CBN Curitiba.

Responsabilizar os outros, trapacear, fofocar, iludir, cobiçar, exibir-se, proteger-se, promover-se – tudo isso é humano! Quem se habilita a atirar a primeira pedra? Por isso, meus queridos amigos, procuro falar apenas daquilo que entendo, e com a certeza de que sempre terei mais a entender; me esforço para ser receptivo às opiniões divergentes; e evito desviar minha atenção à lisura dos meus gestos, comportamentos, palavras e ações, afinal: minha carne é fraca!

Minha homenagem às mulheres

Não é só no dia 8 de março que eu me preocupo com minha contribuição para o empoderamento da Mulher!! Mas essas datas especiais servem para reforçar os nossos sentimentos em relação aos temas.

Em 2015 ressaltei o quanto os homens podem aprender com as competências femininas:

  • Empatia
  • Resiliência (advinda de jornada dupla, luta contra preconceitos)
  • Flexíveis- (menos preconceituosas)

No ano passado, trouxe um pouquinho do artigo de Robin Ely, Herminia Ibarra e Deborah Kolb: Mulheres em ascensão: barreiras invisíveis.

Que reconhece os avanços da luta pela igualdade de direitos, mas que ainda temos que encarar uma forma mais sutil de preconceito, um preconceito não intencional, mas de grande impacto no desenvolvimento da liderança feminina que que as autoras chamam de “segunda geração de preconceito de gênero” .

Esses artigos são ótimas fontes de informação e combate ao preconceito. Recomendo a leitura.

Tenho também procurado trazer ações práticas de luta contra as disparidades.

Por isso, este ano resolvi ir direto ao ponto, propondo algumas ações ou conceitos capazes de diminui-las.

1 – A primeira delas, como não poderia deixar de ser, é tomarmos consciência de que o preconceito existe; O primeiro passo para tratar qualquer tipo de doença é este – reconhecer sua existência: quem não sabe que está doente, não se trata.

2 – A segunda é: entender de uma vez por todas que o valor do salário está no cargo, independente de quem o ocupa. Lógico que existem variações, podemos vê-las no ambiente machista. Mas as variações não podem ser a regra e devem estar bem fundamentadas nas competências de quem ocupa o cargo, independente de gênero.

As próximas sugestões de ações variam um pouco segundo o papel exercido na sociedade:

3 – Se você é homem – procure apreciar e valorizar as caraterísticas marcantes do gênero feminino, como as ditas anteriormente. Trata-se de completar-nos, juntarmos todas as competências, de cada gênero.

4 – Se você é um gestor – procure montar uma equipe equilíbrio em relação ao gênero, tanto na base operacional, como, principalmente, na liderança (aqui cabe uma ressalva: não somente de gênero!).

5 – Agora, se você é pai, além de dar boa educação e formação para sua filha, empodere-a! Mostre para ela que o que nos une como humanos são as semelhanças e não as diferenças. Mas não se esqueça de mostrar também que o que nos desafia não são nossas semelhanças, e sim nossas diferenças.

2015 eu disse as mulheres: “Parabéns por trazerem mais humanidade às organizações”.

2016 – “Viva a competência feminina”.

2017 – “Empodere-se”.

Pense fora da caixa

Quem nunca ouviu este conselho: “você tem que pensar fora da caixa”? Esta frase já se tornou clássica no mundo corporativo, afinal, ela significa: veja a situação de outro ângulo, por outro ponto de vista, aceite uma ideia diferente – como também as vezes soa como: se vire, dê seus pulos, mas me traga a solução! E desde que a humanidade iniciou essa grande disputa por dinheiro, mercados, clientes – não mais tivemos paz, só pressão.

Pensar fora da caixa significa pensar diferente, ver as coisas de fora, do alto. É buscar por soluções em “lugares” ainda não explorados. Mas quando nos recomendam, nunca nos orientam ou ensinam em como fazê-lo. As pessoas simplesmente dizem: “você tem que pensar fora da caixa”. Mas, se eu soubesse como fazer para pensar fora da caixa eu já estaria pensando fora da caixa, não é mesmo? É para eu sair da caixa e ver novas possibilidades, um novo mundo fora da caixa, mas se eu soubesse como é o “mundo” fora da caixa eu não mais estaria dentro da caixa. Complicado né!?!?

Vamos recorrer a duas pequenas histórias sobre como pensar fora da caixa:

Charada do ponto de ônibus

Fazia muito frio e chuva e você voltava para sua casa tarde da noite com seu pequeno carro – um carro que cabe apenas 2 pessoas: o motorista e um passageiro -, quando de repente você avista em um ponto de ônibus 3 pessoas: o médico que salvou a sua vida, uma senhora bem velhinha, adoecida, e o grande amor da sua vida.

No seu carro só cabe mais uma pessoa. Oque você faria?

Lembre-se: pense fora da caixa!

O julgamento do inocente

No tempo dos grandes reinos, grandes impérios, havia um ditador injusto, cruel, egoísta e ambicioso. Qualquer cidadão que desrespeitasse suas regras era severamente punido. Quando este ficou sabendo de um vassalo que conquistara o coração de sua filha, tratou logo de procurar um motivo para detê-lo e julgá-lo, o que não foi difícil, haja visto o total desrespeito com os direitos dos cidadãos.

O pobre rapaz foi levado a julgamento, melhor dizendo, a toda aquela encenação, afinal, o resultado já se sabia de antemão. O juiz lhe ofereceu a perpétua ou invés da pena de morte em troca de uma confissão, mas ele era inocente e recusou a negociação. Diante disso o juiz propôs um sorteio: “vou pegar dois pedacinhos de papel, em um escreverei culpado e noutro, inocente. Você escolherá um deles e em voz alta pronunciará a sua sentença”.

Ele não tinha como recusar. Na verdade, a ideia até soava mais justa, afinal um sorteio era melhor do que aquela armação. Mas ele sabia que não podia confiar naquele juiz e de fato tinha razão: o esperto juiz escreveu “culpado” nos dois pedaços de papel, excluindo “inocente” do rol de opção.

O que você faria se estivesse no lugar dele?

Lembre-se: pense fora da caixa!

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As histórias são legais, mas esse negócio de ficar mandando os outros pensar fora da caixa é muito chato! Ao invés de ficar “corneteando” dicas aos quatro cantos, que tal ajudar um pouquinho? Quando pensamos em como pensar (isso mesmo: pensar o pensar = metacognição) fora da caixa, pensamos em questionamentos capazes de abrir a nossa percepção – ampliar os pontos de vista, aumentar o leque de possibilidades, portanto, algumas perguntas podem ser muito bem-vindas:

  • Com que esta situação se parece? Já passei por situações semelhantes?
  • Qual seria a melhor solução se não houvessem restrições?
  • Pense em alguém que admire muito. Se esse alguém estivesse em seu lugar, como resolveria? Como pensaria?
  • Quais outros campos/áreas podem ser explorados?
  • Quem são os envolvidos?
  • Quais valores que estão envolvidos?
  • Quais insights e intuições podem ser obtidos com essa situação?

E não se esqueça de discutir a situação com outras pessoas, principalmente aquelas que você saber que pensa diferente de você – mas trate de escutar direito, com atenção, e não fique preso nos seus próprios julgamentos. No primeiro momento é preciso abrir ao máximo o assunto – explorar por completo o tema, somente após a exaustão é que se deve buscar a síntese, ou seja, o fechamento.

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E por falar em fechamento, ao desfecho das histórias:

No primeiro caso, o melhor a fazer seria: entregar seu carro ao médico, para ele poder levar a velhinha ao hospital e ficar no ponto de ônibus com o grande amor da sua vida!

No segundo, diz a história que o réu retirou um papelzinho das mãos do juiz e imediatamente enfiou na boca e o engoliu. O juiz possesso gritou: “imbecil! Como saberemos agora qual papel tirou”? O aldeão tranquilamente respondeu-lhe: “simples, o que escolhi é exatamente o oposto do que ficaste em suas mãos”!

Contrate pelo Potencial, e não só pelas competências!

O tradicional modelo de contratação por competências já está ficando defasado: carente de um “up grade”. O fato é que o conceito de competências está fundamentado na crença de que “o desempenho passado pode predizer o desempenho futuro”, ou seja: se um determinado profissional mobilizou conhecimento, habilidades e recursos com maestria, produzindo assim excelentes resultados a probabilidade que ele consiga repetir tal feito em outras situações é grande – grande o suficiente para contratá-lo!

Mas acontece que os negócios estão ganhando complexidade em proporções exponenciais. Fenômenos como: rupturas tecnológicas, competitividade entre as empresas e globalização estão tornando praticamente impossível predizer o desempenho de profissionais – tamanho grau de alteração do contexto.

A solução para melhorar a assertividade nos recrutamentos é a avaliação do potencial do profissional, e não só das competências – essa é a proposta de Claudio Fernández-Aráoz, em seu artigo: Caça a talentos no século XXI, publicado na edição de julho de 2014 na Harvard Business Review.

Fernández-Aráoz entende potencial como “a capacidade de se adaptar e crescer em cargos e ambientes cada vez mais complexos”; “capacidade de aprender, crescer e se adaptar a novos ambientes” e propõe uma forma para medi-lo, através de 5 indicadores:

Motivação: pessoas com alto potencial têm grandes ambições e querem deixar sua marca (mas isso através de metas coletivas e objetivos altruístas) e ao mesmo tempo demonstram humildade pessoal.

Curiosidade: buscam novas experiências e conhecimentos. São abertos à aprendizagem e a mudança.

Percepção: é a capacidade de reunir e dar sentido a informações que indicam novas possibilidades.

Engajamento: habilidade para usar a emoção e a lógica para comunicar uma visão convincente e conectar-se com as pessoas.

Determinação: esforço necessário para lutar por objetivos difíceis, desafios e recuperar-se da adversidade.

Claro que podemos dizer que esses 5 indicadores não deixam de ser como 5 competências: motivação, curiosidade e determinação são atitudes; percepção e engajamento são habilidades e todas essas 5 são proporcionalmente potencializadas conforme o nível de conhecimento. De qualquer forma, o conjunto dessas competências conferem ao indivíduo a capacidade de aprender, adaptar e crescer em ambientes complexos e em profunda transformação.

Não posso deixar de lembrar que: de nada adianta contratar um HiPo (abreviação de “higth potential” – profissional de alto potencial) e não lhe dar autonomia, ou ainda pior: não desafiá-lo!

Quero concluir o artigo com essa frase do Fernández-Aráoz:

“Empurrar seus altos potenciais para cima numa escada reta em direção a mais trabalhos, orçamentos e equipes vai dar continuidade ao crescimento deles, mas não vai acelerá-lo. Atribuições diversas, complexas, desafiadoras e desconfortáveis vão”.