Os rituais e as organizações

Era o dia mais importante da vida dela. Por isso tamanha produção! Uma equipe a preparava: maquiador, cabeleireiro, manicure – todos operando simultaneamente naquela antessala, outrora grande, mas agora apertada, pois além dela e sua equipe, outras também se aprontavam.

O clima alegre, feliz, leve – muita, mais muita alegria! Essas que a ela se juntavam, eram nada menos do que as pessoas mais especiais da sua vida, ali havia: mãe, primas, amigas – mas por hoje, cada qual com seu papel: apenas mãe e madrinhas!

O salão lotado – mais parentes e amigos, tinha até desconhecidos. Todos se avolumavam e disputavam assentos à frente, alguns respeitavam o lado, o lado do seu ente. Mas havia uma hierarquia presente – parentes mais velhos à frente!

A curta distância entre o “camarim” e o altar agora era distante. Um caminho mágico, passo a passo – como quem caminha nas nuvens, vibrante! Os convidados maravilhados: pasmos, felizes, radiantes – quando em choro, um choro emocionante. Uma grande festa começou, após o “sim” dos amantes.

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Os rituais estão muito mais presentes em nossas vidas do que conseguimos imaginar. Na verdade, estão tão incorporados à cultura que mal podemos percebê-los, mas podemos intensamente vive-los. São as formaturas, os casamentos, os chás-de-bebes, os batizados, os aniversários, as missas, os carnavais, os almoços de domingo …

Os rituais são para mim fascinante. Pude conhecer um pouco mais sobre elas através de Joseph Campbell, mais especificamente em: “As máscaras de Deus: mitologia primitiva – recomendo a leitura para aqueles que se interessam pelo assunto.

Os rituais assumem diversas funções de grande importância para o funcionamento da sociedade, dentre elas, nortear o comportamento humano. Não quero parecer simplista (ou utilitarista) e “pintar” aqui os rituais como algo premeditado, intencional, manipulativo – ou mesmo como algo: tolo, ingênuo, “submissivo”. Por isso, peço permissão dos amantes (ou estudiosos) da mitologia para discorrer sobre o caráter “orientador de ações, atitudes, comportamento, que os ritos assumem em nossas vidas – mais especificamente em nosso ambiente profissional.

Vamos então para outra história?

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Era o dia mais importante da vida dela. Por isso tamanha produção! Uma equipe a apoiava: planilhas, gráficos, textos. Todos envolvidos há dias com aquela apresentação.

O clima alegre, apesar da pressão. Muita exigência, mas muita satisfação. Sentia-se segura, apesar da apreensão. Sua equipe era especial, por ela cuidadosamente escolhida e desenvolvida – mas cada qual com o seu papel: supervisores, assistentes, analistas.

A sala estava lotada – toda diretoria. Ninguém disputava assento, seu lugar já se conhecia. Projetor, computador, café e água quente, afinal um deles gostava de chá e estava presente. Mas havia uma hierarquia, atente: na cabeceira, o presidente!

A curta distância entre sua sala e auditório agora era distante. Um caminho tenso – seu futuro logo ali, à frente! Os ouvintes atentos, minuciosos, pensantes. A decisão definiria o futuro da companhia e seu futuro profissional, consequente. Foi tomada por uma grande vibração, comoção muito excitante – quando todos assentiram, dando voz ao presidente: “Seu trabalho superou expectativas iniciantes, seu projeto segue em frente”!

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As reuniões são os rituais mais comuns, mais frequentes, nas organizações. Seus elementos, sua formação, condução, conteúdo – isso tudo gera indícios sobre o que é mais valorizado, aceito, elogiado, exigido, respeitado … enfim, orienta o comportamento das pessoas.

Mas existem muitos outros rituais, dos mais simples aos mais sofisticados: do café com o presidente à convenção anual. Comemorações, preleções de vendas, orações, políticas de integração, recepção (tratamento) de visitantes, festas de final de ano …

Esses são apenas alguns exemplos que primeiramente vêm à mente, mas meu objetivo com esse artigo é o convite para a reflexão a respeito do assunto. Quais rituais sua organização vem praticando? O que poderia ser melhorado? Quais poderiam ser criados? Hoje muito se fala sobre engajamento e os rituais são fontes poderosas de pertencimento.

Chega! Não quero mais ser feliz no trabalho

Sempre defendi e propaguei as ideias (ideais) sobre felicidade no trabalho, mas hoje quero oferecer um contraponto!

O que acontece na verdade é que me cansei de tanta poesia sobre o assunto. Eu mesmo sou autor de várias:

“… é importante compreender bem os seus desejos e as suas reais necessidades, aquelas que vêm do coração. Não podemos esquecer que o trabalho nos dá o senso de pertencimento, de utilidade e de importância na construção de algo maior. E essa sensação de importância, de fazer a diferença, com certeza contribui para alcançar a tão sonhada felicidade”- Felicidade e trabalho, João Xavier, novembro de 2011 – disponível em: www.ricardoxavier.com.br

“Podemos (e devemos) desejar muito, desejar alto ou até mesmo desejar sublime – isso com toda certeza produzirá energia e força. Mas, para não ficarmos presos na armadilha de um “querer sem fim” temos de lembrar que a felicidade está na jornada e não do objetivo”. O trabalho e os dias, João Xavier, novembro de 2016 – disponível em: www.joaodequeirozxavier.com.br

“Muitos já vivem essa plenitude. É o caso de professores, pesquisadores, arquitetos, programadores – todos que trabalham com criação vivem nesse mundo, afinal, quantos insigths não acontecem no banho, no sonho, no ônibus – de modo que a pessoa não sabe ao certo se ela está trabalhando, se divertindo, estudando, se cuidando. Plenitude no trabalho, João Xavier, abril 2016 – disponível em www.joaoqueirozxavier.com.br

Mas agora chega! É preciso dizer que não há espaço para todos serem felizes no trabalho. Sempre alguém precisará fazer o “serviço sujo”. Todo mundo quer fazer o que gosta, todo mundo quer deixar um legado, todo mundo quer ser chefe… acontece que para conseguir isso é preciso muito empenho, muita mão na massa, muito suor! E poucos estão dispostos a pagar o preço.

Outro ponto importante é que sempre (com raríssimas exceções) o resultado financeiro está diretamente ligado ao empenho exercido. É muito difícil encontrar alguém que trabalhe pouco e ganhe muito. Quando me deparo com casos assim, rapidamente identifico o quanto de dedicação foi empenhada no passado de modo a poder gozar disso no presente.

A ideia que tem circulado é que qualquer um pode ficar rico a partir da garagem da casa da mamãe, mas não é bem assim que funciona (recomendo a leitura da Biografia de Steve Jobs para constatação “dos preços” que ele pagou para conquistar o que conquistou). Sem falar que mais difícil do que conquistar é manter (ou aprimorar).

De qualquer forma, tenho agora que deixar minha realização profissional (o meu legado) autoral e voltar para os maçantes relatórios com prazos a entregar.

Aquilo que nunca te falaram sobre a Uber (Atualização)

Atenção: Você está diante de um dos melhores artigos por mim publicados. Para não soar arrogante: não quero dizer que o artigo é bom, mas sim que, dentre os meus, é um dos melhores. Faço esse alerta por dois motivos (1) o artigo é longo, mas vale a leitura, e (2) acabo de atualizá-lo – ele foi originalmente publicado em março de 2016, mas diante de tantas mudanças foi necessária uma nova edição – todas as atualizações estão sinalizadas.

Antes que esse artigo gere qualquer tipo de polêmica a respeito da Uber, quero deixar bem claro que não tenho nada contra a empresa ou seus serviços prestados. Usei e uso seus serviços sempre que necessário.

  • Atualização (Abr/2017): Não sou contra a entrada da Uber, muito pelo contrário, sou a favor da livre-concorrência. Mas o assunto é por demais complexo, envolve questões como: máfia dos alvarás, sindicatos, legislação, tecnologia … Por isso, minha singela proposta com este artigo é ampliar nossa visão e, consequente reflexão, sobre o assunto.

Tenho percebido certo glamour em se defender o serviço da  Uber. É como se quem defendesse os taxistas fosse retrógrado ou analfabeto tecnológico, no entanto, vejo algumas questões importantes que estão passando despercebidas pelos “fãs” do novo aplicativo. Aliás aqui já reside um ponto: (1) estão vendendo a empresa como se fosse uma empresa de tecnologia e que seu serviço nada tem a ver com o serviço de táxi – como se fosse apenas um aplicativo. Tenham certeza de uma coisa: trata-se de uma empresa, muito grande por sinal, e que se seus serviços não concorrem diretamente com os serviços de táxi, os de seus “parceiros” sim, concorrem diretamente.

  • Atualização (Abr/2017): Esse glamour todo se acabou. Seus motoristas reclamam da pouca lucratividade, a qualidade dos carros (e atendimento) despencou, afinal, os melhores profissionais abandonam a Uber na primeira oportunidade de emprego que aparece, e problemas com a segurança tem sido destaque na imprensa.

(2) O Serviço é tecnicamente ilegal e foi proibido em países como França, Itália, Alemanha e muitos outros. E por possuir apenas uma forma de pagamento (cartão de crédito) fere o nosso código de defesa do consumidor.

  • Atualização (Abr/2017): O aplicativo já oferece o pagamento em dinheiro. Na Franca a briga está muito boa e tem condenado a Uber a pagar multas milionárias e na Itália a proibição acaba de ser suspensa – mas a briga ainda continua pela Europa.

Antes da Uber, qualquer motorista que se propusesse a transportar passageiros recebendo algo em troca por isso era considerado transporte pirata. Como que num passe de mágica, depois da criação de um aplicativo, esse tipo de proposta se transformou em “carona compartilhada” ou mesmo em um serviço legal. Mas o que mudou na natureza dessa prestação de serviço para que o transformasse em algo legal? Nada! O mais interessante é que, por exemplo, prostituição não é crime, mas agenciar pessoas para esse tipo de “relação” o é. Pensando agora em Uber, uma atividade que já constituía-se como ilegal (o transporte clandestino de passageiros), depois de surgir um “agente” intermediador torna-se então lícita!?!

Duas grandes lendas surgiram: (3) o serviço é mais barato e (4) a qualidade é excelente.

O que acontece é que na interação: serviço x qualidade o preço é igual ou superior ao do táxi. A Uber tem dois serviços distintos: o Uber X e o Uber Black. O primeiro com a proposta de baixo preço e o segundo com a proposta de excelência no serviço, mas acontece que sua mensagem de marketing mostra como se essas duas características acontecessem simultaneamente, o que não é verdade – “vendem” a imagem do táxi preto, banco de couro, spotify – o que só acontece com o Uber Black. Além do mais, o preço é variável, existe um fator de correção (preço dinâmico) que ajusta o valor da corrida conforme a oferta e procura, portanto, em horários ou locais com maior procura o preço aumenta, de modo a não ser uma alternativa sempre mais barata (importante ressaltar que independente da dinâmica do preço, este é sempre previamente estimado quando da solicitação da corrida).

  • Atualização (Abr/2017): A qualidade do Uber-X caiu muito. Tem muitos carros velhos, motoristas despreparados e até mal-educados (já tive que pedir para que ligasse o ar-condicionado).

Aproveitando que estamos falando de qualidade, outros dois fatores (que inclusive já aconteceram comigo) interferem sobremaneira na experiência do usuário, a saber: (5) os motoristas podem escolher a corrida – é bastante desagradável encontrar um carro disponível à 10 – 15 minutos de distância. Sem falar quando após 1 minuto da solicitação você descobre que o motorista “sumiu”. E (6) muitos motoristas não são conhecedores da cidade de São Paulo e acabam por errar ou fazer piores caminhos (isso já aconteceu comigo duas vezes).

Estratégias e Posicionamento de Marketing

A empresa joga pesado (7), para não dizer sujo, em suas estratégias de marketing. Seus motoristas não estavam (e ainda estão) muito satisfeitos com a política de 15% de desconto (que já perdurava há 3 meses) adotada para ganhar mais clientes.

  • Atualização (Abr/2017): Essa política de desconto ainda perdura. A insatisfação dos motoristas é tão grande que já estão se organizando, promovendo manifestações e até greves. Muitos motoristas descredenciados estão entrando na justiça do trabalho e já há relatos de ganho de causas.

Grande verbas são destinadas a programas como: primeira corrida de graça, ganhe chope de graça em bares ao ir de Uber, dentre outras campanhas. Eles investem muito em influenciadores nas redes sociais e Youtube. Há quem diga até sobre falsos ataques de taxistas, o que não chego a acreditar, mas tenho a certeza do forte empenho por parte da empresa em viralizar ou exagerar os incidentes ocorridos e minimizar ou abafar as mídias que explicam sobre a (8) concorrência desleal, por exemplo.

Não há como negar a concorrência desleal! O mesmo serviço é oferecido e por preços (no caso do Uber X) consideravelmente menores – sem falar nessas campanhas que facilmente poderiam ser consideradas com prática de dumping.

O problema é que os taxistas não exercem poder diretamente na precificação de seus serviços – quem cuida disso são as Prefeituras, através de suas Secretarias de Transportes, portanto, os motoristas de táxis estão de mãos atadas.

  • Atualização (Abr/2017): Na verdade os taxistas não fazem pressão alguma no sentido de baixarem seu preço. Sempre digo: se o táxi fosse apenas 10%, quem sabe até 20% mais caro, em alguns casos. Com toda certeza eu optaria na maioria das vezes pelo Táxi! A frota de táxi de São Paulo e até mesmo a de Salvador não estão sucateadas. Claro que há casos de carros ruins, mas a maioria são carros com até 3 anos de vida, prazo pelo qual o taxista pode adquirir outro veículo com a isenção de impostos.
  • Tenho visto pressão de sindicatos de taxistas pedindo pela regulamentação da atividade do Uber, alegando concorrência desleal, quando na verdade acredito que eles deveriam buscar igualdade de direitos só que desregulamentando o Táxi.

Subemprego

Vou finalizar minhas críticas com o ponto que mais me incomoda e que diz respeito a minha área de atuação: a Uber é para mim considerado (9) subemprego!

A empresa cobra 20% de todo o resultado de seus motoristas (o que para mim é uma taxa absurda) e é ela que dita os valores das corridas. Os custos (gasolina, manutenção, depreciação, pedágios, impostos) são todos de responsabilidade do motorista. Eles “vendem” a ideia de que você pode ganhar 7, 11, 15 mil Reais, mas não falam que isso só é possível com o Uber Black (que exige um carro padrão corola) ou trabalhando mais de 12 horas por dia. E o mais importante: a renda dos motoristas está diminuindo, isso porque no início havia menos carros. Na medida em que aumenta a quantidade de motoristas credenciados, diminui a quantidade de corridas possíveis e diminui o preço da corrida (devido à precificação dinâmica), impactando diretamente no faturamento bruto do “parceiro”.

Ouvi de mais de um motorista dizer que no início dava para ganhar mais dinheiro e que agora as coisas estão mais difíceis. Quem fazia R$ 8 mil agora faz R$ 6, por exemplo. E a tendência é diminuir ainda mais, haja visto a exponencialidade do crescimento da empresa.

Quando comparado com a jornada de trabalho normal um motorista de Uber X realizará aproximadamente R$ 12.000,00 bruto mensal, que descontado taxa do Uber, manutenção, combustível, impostos, depreciação não restará mais do que R$ 6.000 líquido. Acrescente a isso o fato do emprego oferecer 13º. salário, plano de saúde e férias e verás que o negócio não é tão bom assim – equivaleria a um salário de R$ 3.800,00. (Veja aqui as bases de cálculo)

  • Atualização (Abr/2017): Esqueçam essa base de cálculo. Não precisamos mais. Já temos muitos depoimentos de motoristas informando uma receita média líquida semanal de R$ 750,00 -, logo, aproximadamente R$ 3.000,00 por mês. Mas tem um grande detalhe, nessa conta não está a depreciação do veículo. Portanto, o motorista tem a percepção de um lucro de 3 mil, quando na verdade, excluindo a deprecação, seu lucro é próximo dos 2 mil.

Pode até parecer um bom salário, mas imagine quando for preciso fazer uso da franquia do seguro ou mesmo quando o carro ficar parado para reparos e manutenções. E conforme dito anteriormente, a tendência é a concorrência aumentar e o rendimento do motorista cair.

O outro lado

De fato, (1) o consumidor foi favorecido. No meu caso, por exemplo, uma corrida para o Aeroporto de Guarulhos com a Uber, fica na faixa de R$ 55,00, enquanto que o táxi comum está na faixa dos R$ 100,00 e o Guarucoop não sai por menos de R$ 135,00.

Viajo com muita frequência e costumo voltar as sextas-feiras muito tarde, por volta da meia noite. Sempre encontro grandes filas no táxi do aeroporto. São duas filas na verdade: uma para pagar e outra para pegar o carro. Já cheguei a ficar 30 minutos nessa espera. Ou seja, quem me cobra o maior preço é quem me oferece o pior serviço.

A qualidade do serviço é muito superior quando tratamos do Uber Black e relativamente superior quando falamos de Uber X. Digo relativamente pois vejo que o serviço de táxi na cidade de São Paulo é muito bom. Dificilmente encontramos taxistas mal-humorados ou mal-educados, o que não posso afirmar quanto a outras praças, como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde já tive muitos problemas com taxistas.

Outro ponto importante é que (2) subemprego é melhor que desemprego. Na atual situação do mercado de trabalho, a Uber aparece como uma boa fonte de trabalho e receita.

Por fim, entendo que (3) o grande problema reside na máfia que se formou em torno dos alvarás de licenças dos taxistas.

Conclusão:

  • Atualização (Abril/2017): Se os taxistas tivessem se empenhado em baixar sua tarifa (10-20%) e melhorar a qualidade do atendimento (veículo, tecnologia e educação dos motoristas) em vez de brigarem e exigirem regulamentação da Uber, com certeza hoje estariam em melhores condição de competição.

A tecnologia, com suas infinitas possibilidades, está transformando o mundo. As regras criadas no passado não mais atendem as necessidades presentes e, principalmente, futuras. No caso dos Táxis, por exemplo, a regulamentação criada pela legislação e pelas secretarias de transportes foi necessária justamente para proteger os taxistas e os passageiros, legislando sobre preço, formação profissional, direção segura e rentabilidade da profissão. O que protegeu os taxistas no passado é o que está os matando no presente – devido a todo o aparato regulatório eles não têm como reagir à concorrência.

O Uber descortina o momento de ruptura pelo qual estamos passando. É impossível se chegar a uma conclusão a respeito dessa situação – não dá para apoiar 100% nenhuma das partes, todas carregam consigo boas razões e algumas sacanagens.

O que acho que está acontecendo é que a tecnologia está colocando em cheque o atual sistema econômico. Ela está extrovertendo o grande conflito interno do ser-humano: ego x self. Como animais somos egoístas, mas como humanos somos altruístas.

Ainda não percebemos que: ser rico enquanto a maioria é pobre, não é tão bom assim; ser saudável enquanto a maioria adoece, também não é tão bom assim; ser culto enquanto a maioria é ignorante, também não é tão bom assim.

De maneira mais poética e artística lhes digo: o amor existe para nos ensinar essa lição, é só trocar a palavra “maioria” pela palavra “irmão” no texto acima. Vamos lá faça o teste. Não vou reescrever o texto, quero que você o releia substituindo as palavras conforme sugeri… insisto – não vou seguir com o texto enquanto você não o fizer!

E ai, que achou?

Mas dito de maneira mais técnica: é como propôs Thomas Friedman, jornalista norte-americano em seu livro: O Mundo é Plano. Estamos vivendo um conflito de papéis:

O João empresário que reside aqui dentro de mim não quer pagar impostos, quer pagar os menores salários e vender seus produtos e serviços pelo maior preço possível. O João consumidor que também reside aqui comigo, quer comprar os produtos e serviços mais baratos possíveis. Já o João funcionário, que também reside cá comigo, quer o maior salário possível, com os maiores benefícios e com menores impostos. Por fim, o João cidadão brasileiro, quer saúde, educação, transporte …

Quando vamos acordar para “o todo”? É chegada a hora de uma economia mais humana, uma economia de colaboração, com melhor distribuição do bem.

Gamification e Motivação

O conceito Gamification foi criado em 2003 pelo programador inglês Nick Pelling e hoje vem ganhando espaço no mundo corporativo. Em português é conhecido como Gamificação, levando-nos a concluir que trata-se de transformar algo em um game, um jogo.

É mais ou menos isso, para ficar melhor esclarecido vamos usar a definição de Karl Kapp: “Gamification é a utilização da mecânica, estética e pensamento baseados em games para mobilizar pessoas, motivar a ação promover aprendizagem e resolver problemas”. Ou seja, trata-se do uso de elementos de jogos para o alcance de determinado objetivo.

Muitas organizações têm usado o conceito sob a forma de técnicas para promover aprendizado, desenvolvimento, comprometimento, melhor desempenho. O fato é que os games têm muito a dizer sobre a motivação humana, haja visto que, nas palavras de Flora Alves, “os games são uma superação voluntária de obstáculos desnecessários”.

O que tanto atrai nos games? Por que dedicaria meu tempo para superação de obstáculos desnecessários?

Os estudos da psicologia sobre motivação podem dar algumas pistas. Para a psicologia temos três grandes classes de motivadores: (1) motivos homeostáticos – que são as nossas necessidades físicas e psíquicas em busca de equilíbrio interno; (2) motivos cognitivos – nossas funções intelectuais e cognitivas envolvidas com os atos de pensar, simbolizar, refletir, analisar e solucionar problemas; e por fim (3) motivos sociais – que são nossos relacionamentos, convivência, diversão, aprovação, competição.

Desse modo, podemos ver que os elementos dos games podem acionar nossos motivos cognitivos: como o prazer de passar uma fase, de terminar um quebra cabeça, de resolver uma charada (ou um Sodoku); e nossos motivos sociais: como nos divertir em quanto jogamos em grupo, rivalizarmos as disputas, sermos reconhecidos como competente. Logo, é incontestável o poder motivacional dos jogos.

Portanto, o emprego dos conceitos e elementos de jogos para obtenção de resultados por parte das organizações, abre grandes oportunidades para os aficionados por jogos e seus designers, mostrando que o jogo pode ser bem mais do que uma brincadeira, pode ser uma profissão. Ou será o contrário?

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Artigo originalmente publicado em no Olhar Digital – Gamification: a aposta das empresas para melhorar os resultados

Beleza e mercado de trabalho

Ontem participei de uma matéria da rede Record que abordava o tema dos efeitos da beleza nos processos seletivos, baseando-se em uma pesquisa da Elancer, intitulada: “Empresas evitam contratar profissionais com beleza acima da média”.

O interessante é que apesar da pesquisa apenas relatar os resultados apurados, a imprensa cuidou de criar grande especulação sobre os porquês dos dados. Vejamos:

A pesquisa apurou que:

  • 46% dos recrutadores entrevistados preferem contratar profissionais com a aparência mediana;
  • 2% procuram por profissionais de beleza acima da média e;
  • 1% declarou procurar profissionais feios.

Esses dados foram suficientes para criar uma celeuma sobre as razões pelas quais um recrutador, ou um contratante, preteririam um candidato muito bonito. Dois fortes argumentos foram levantados:

  1. O recrutamento é realizado em sua grande maioria por mulheres, solteiras e com idade média de 29 anos.
  2. A direção de algumas empresas acredita que pessoas bonitas provocam distrações.

Esses dois argumentos já são mais do que suficientes para constatar que estamos tratando de um preconceito, pode parecer estranho – um preconceito com pessoas bonitas!? Mas sim, é uma concepção antecipada de juízo. O critério “beleza” deveria ter maior peso em processos de seleção de modelos, por exemplo. Em áreas como atendimento ao cliente, vendas, promoção, relacionamento, a beleza até pode interferir, mas ainda assim, fatores como: oratória, postura corporal, bagagem cultural/educacional, decoro – devem vir primeiro.

Já que estamos falando de preconceito, foi inclusive sugerido nas matérias que também se tratava de um aspecto cultural oriundo da crença de que se a pessoa é bonita, é burra – Mais um tremendo absurdo.

As distrações sugeridas no item 2 parecem estar relacionadas a atração física/sexual, sugerindo que as pessoas costumam desviar sua atenção do trabalho para a beldade (começo a achar que é melhor demitir os distraídos e contratar quem detém suma-beleza). Mas há casos reais em que gestores evitam a contratação. Talvez por conhecerem suas fraquezas ou mesmo o nível de ciúmes de seus parceiros. Nós mesmos já tivemos um caso em que a cliente exigiu que não contratássemos pessoas muito bonitas ou vistosas. Era para uma vaga de assistente de diretoria e a contratante era nada menos que a esposa do diretor requisitante.

Mas o que mais me chamou a atenção mesmo foi o primeiro item, que sugere uma “rivalização” feminina, onde recrutadoras não aprovariam aquelas mais belas do que elas. Acreditar que esta seja a razão por trás dessa forma de preconceito é acreditar que este só acontece com as mulheres, e o que é pior: é afirmar que as mulheres estão tendo preconceito com as próprias mulheres!  Tenho mais de 10 anos de experiência nesta área. Já estive a frente de equipes grandes de recrutadoras e nuca sequer ouvi falar disso! Das duas uma, ou eu “vivia no mundo de Alice” ou essa suposição é completamente equivocada.

De qualquer forma, que fique bem claro: seleção de profissionais deve se basear primordialmente em: conhecimentos, habilidades, atitudes e resultados. Os outros critérios, sejam eles quais forem, devem ficar em segundo plano, e seu julgamento, bastante cauteloso.

Lidando com os boatos nas organizações

Sempre tive certa fascinação pelos boatos. É curioso observar a velocidade com que ele circula e deleitante recebê-lo em seus ouvidos, isso porquê os boatos circulam apenas entre aqueles que são dignos de confiança. Exatamente! Ouvir um boato, assim como propagá-lo, gera senso de pertencimento.

Sua velocidade está diretamente ligada à eficiência da rádio-peão, ou rádio-corredor, como também é conhecida. É a famosa comunicação de boca em boca, que costuma ser muito mais eficiente do que os avisos, informes e comunicados – das mais diversas mídias, como: intranet, murais, memorandos, e-mails. E aqui reside outra fonte do meu fascínio: o boato é orgânico – ele é formado naturalmente a medida em que circula estimulando ouvidos, provocando línguas e abrindo bocas.

Em sua origem, do Latim boatus, “mugido, grito”, de bos, “boi”, o boato assume um significado de notícia propagada, gritada aos 4 cantos – hoje, em sua forma mais potente: viralizada! Até este ponto da história o boato estava imaculado, ou seja, não se tratava de mentiras, maledicências ou fontes obscuras ou informais – quando muito: notícia sem importância. Mas hoje o boato assume um significado de notícia fantasiosa, infundada, informal.

É importante diferenciarmos algumas coisas:

Boato x fofoca

Fofoca: normalmente trata de pessoas, enquanto que os boatos tratam de notícias, eventos, acontecimentos. A fofoca costuma carregar consigo uma boa dose de maldade, já o boato dificilmente o faz, afinal, como já dito ele é orgânico, logo, só terá maldade se esta for a vontade do “grupo-fundador” – é também possível “plantar” um boato, neste caso, passível de maldade ou obtenção de vantagens. Desse modo, são raros os boatos que se tratam de fofocas, já a maioria das fofocas tratam-se de boatos. A fofoca dificilmente trata de mentiras, quando muito: enganos ou exageros – mas em sua maioria é apenas o deleite para com a desgraça, graça ou estupidez alheia[1].

Boato x mentira

Mentira: a mentira é algo totalmente intencional! É faltar com a verdade. Com toda certeza carrega consigo a maldade, omissão, dissimulação ou vantagens. Já o boato nunca se preocupa com a veracidade da informação. Sua maior preocupação parece estar na velocidade da divulgação – pouco importa se o que estou transmitindo é verdade ou mentira, estou apenas “vendendo o peixe pelo preço que comprei”, não é assim que dizem?

É nesse ponto que entra a importância do assunto para o contexto organizacional: ao lidar com um boato pouco importa se é este é mentira ou fofoca, o que mais importa é o impacto que causa no comportamento das pessoas.

Vejamos alguns exemplos:

Boato + mentira:

Se um boato é também uma mentira, as pessoas passarão a se comportar como se a mentira fosse verdade – algo bastante danoso, não é mesmo? Por exemplo: um boato sobre a substituição de um diretor pode alterar significativamente a dinâmica da arena política da organização. Alguns funcionários se sentirão inseguros em relação ao novo diretor, outros começarão a “mostrar mais serviço”, outros atualizarão o currículo … mas o mais curioso deste tipo de situação é que está é a mais fácil de resolver: basta apenas comunicar formalmente e de forma eficiente a verdade. Fazendo assim, o boato simplesmente desaparece!

Boato + mentira + fofoca

Assim como no caso anterior a “cura” é bastante simples e, se adotada de maneira eficaz, extingue o mal pela raiz. A questão passa ser a velocidade com que o boato é desfeito. E isso envolve não só a velocidade com que se realiza a comunicação da verdade, mas principalmente a velocidade com que se descobre a existência do boato. E aqui vai o alerta: quanto maior o nível hierárquico, pior a sintonia da rádio-peão! Por isso que gosto de fazer passeios pelos cafés e corredores das empresas, lá não só a sintonia é melhor, como também o volume.

Boato

Agora vêm os casos mais difíceis, quando boato se apresenta em sua forma mais genuína, qual seja: tratando-se da verdade antecipada por colegas mais influentes que proporcionaram alguns vazamentos (seletivos ou não; intencionais ou não – muitas vezes o comportamento dos diretores indica claramente o que está acontecendo). Por exemplo: a alta direção da empresa resolveu abandonar determinado segmento (ou produto) do mercado. Com isso, algumas pessoas e alguns departamentos deixarão de ter funcionalidade, logo, transferências e demissões serão feitas. Algumas pistas são facilmente decifradas pelos demais funcionários, como: corte de verba, demora na resposta de e-mails, redução da quantidade de reuniões, enfim, as pessoas envolvidas neste segmento (ou produto) conseguem perceber com facilidade as mensagens subliminares.

O problema é que enquanto não se extirpa o boato, comunicando de uma vez por todas o que está acontecendo e como será feita a transição, o medo e a insegurança tomam conta do clima da organização – pessoas não diretamente afetadas pela situação poderão se preocupar mais do que o necessário e até algumas pessoas diretamente impactadas poderão ser pegas de surpresa! O fato é que, com toda a certeza a produtividade (mesmo em áreas pouco impactadas) cairá.

Solução? Mais uma vez: dizer logo a verdade! O ponto principal passa a ser a velocidade da estruturação e implementação das ações da mudança, de modo a poder comunicá-las o mais rápido e com a maior transparência possível.

Boato + fofoca

Sempre guardo o melhor para o final. Imaginemos agora uma situação onde o boato é também uma fofoca e ainda por cima trata-se de verdade. Um exemplo levemente frequente: dois colegas de trabalho estão tendo um caso, sendo que um deles é casado. Essa situação se agrava ainda mais se houver relação de subordinação entre eles. De qualquer forma, em ambos os casos os possíveis danos são previsíveis: desrespeito, insinuações, piadinhas, insubordinações – com consequente influência no clima, processos de trabalho e na produtividade.

E agora, como proceder neste caso? Só tem uma maneira: dizer a verdade! O ponto principal nesse tipo de situação é que a verdade, teoricamente, não pode ser dita, correto? Sim, mas não há alternativa: assume-se logo o relacionamento ou convive-se com o boato enquanto o relacionamento durar.

Essa é uma situação bastante espinhosa e que costuma acabar em demissão e/ou divórcio. A organização não pode permitir que os efeitos danosos deste boato se instalem e, como a empresa não deve interferir em assuntos de relacionamentos pessoais, muitas vezes a demissão é a solução para o caso.

Claro que a situação ficaria mais branda se neste exemplo nenhum dos dois fosse casado, pois aí caberia apenas avaliar os impactos do relacionamento nos processos de trabalho e desempenho da equipe, mas essa nova hipotética situação teria muito menos chance de se tornar um significativo boato! Por isso preferi apimentar o exemplo.

Conclusão

A melhor maneira de se enfrentar um boato é simplesmente dizer logo a verdade! Se o boato estiver fundamentado em uma mentira, só a rápida apresentação da verdade poderá extingui-lo. Se estiver fundamentado na verdade, a questão é: por que a formalização da verdade ainda não foi feita? Muito provavelmente por estratégia da alta direção da empresa – normalmente porque a empresa ainda não está devidamente preparada para enfrentar os impactos do “evento” nos funcionários, mercado, concorrentes ou clientes. Neste é preciso avaliar qual o menor custo: antecipar a verdade ou conviver com o boato – de qualquer modo, apressar o planejamento e execução de ações de reparo (ou mesmo preparo) dos impactos do “evento” é a ordem do dia.

[1] Para saber mais sobre fofoca nas organizações leia: Fofoca: veneno que circula nas organizações

Minha homenagem às mulheres

Não é só no dia 8 de março que eu me preocupo com minha contribuição para o empoderamento da Mulher!! Mas essas datas especiais servem para reforçar os nossos sentimentos em relação aos temas.

Em 2015 ressaltei o quanto os homens podem aprender com as competências femininas:

  • Empatia
  • Resiliência (advinda de jornada dupla, luta contra preconceitos)
  • Flexíveis- (menos preconceituosas)

No ano passado, trouxe um pouquinho do artigo de Robin Ely, Herminia Ibarra e Deborah Kolb: Mulheres em ascensão: barreiras invisíveis.

Que reconhece os avanços da luta pela igualdade de direitos, mas que ainda temos que encarar uma forma mais sutil de preconceito, um preconceito não intencional, mas de grande impacto no desenvolvimento da liderança feminina que que as autoras chamam de “segunda geração de preconceito de gênero” .

Esses artigos são ótimas fontes de informação e combate ao preconceito. Recomendo a leitura.

Tenho também procurado trazer ações práticas de luta contra as disparidades.

Por isso, este ano resolvi ir direto ao ponto, propondo algumas ações ou conceitos capazes de diminui-las.

1 – A primeira delas, como não poderia deixar de ser, é tomarmos consciência de que o preconceito existe; O primeiro passo para tratar qualquer tipo de doença é este – reconhecer sua existência: quem não sabe que está doente, não se trata.

2 – A segunda é: entender de uma vez por todas que o valor do salário está no cargo, independente de quem o ocupa. Lógico que existem variações, podemos vê-las no ambiente machista. Mas as variações não podem ser a regra e devem estar bem fundamentadas nas competências de quem ocupa o cargo, independente de gênero.

As próximas sugestões de ações variam um pouco segundo o papel exercido na sociedade:

3 – Se você é homem – procure apreciar e valorizar as caraterísticas marcantes do gênero feminino, como as ditas anteriormente. Trata-se de completar-nos, juntarmos todas as competências, de cada gênero.

4 – Se você é um gestor – procure montar uma equipe equilíbrio em relação ao gênero, tanto na base operacional, como, principalmente, na liderança (aqui cabe uma ressalva: não somente de gênero!).

5 – Agora, se você é pai, além de dar boa educação e formação para sua filha, empodere-a! Mostre para ela que o que nos une como humanos são as semelhanças e não as diferenças. Mas não se esqueça de mostrar também que o que nos desafia não são nossas semelhanças, e sim nossas diferenças.

2015 eu disse as mulheres: “Parabéns por trazerem mais humanidade às organizações”.

2016 – “Viva a competência feminina”.

2017 – “Empodere-se”.

Memória e sucesso profissional

Qual o papel da memória para a carreira profissional? Seria correto afirmar que quem tem boa memória é melhor profissional? É mais bem sucedido?

Vejo uma relação direta entre a memória e competências. Por exemplo, na competência em negociação, é necessário usar a memória para trazer as informações pertinentes, como preço da concorrência, momento de mercado, momento da empresa. Quando se está em negociação é necessário manusear uma quantidade de informações, muitas das quais disponíveis apenas na memória – afinal nem sempre é possível consultar planilhas, internet, chefia.

Outro exemplo é o da competência em liderança. O líder deve lembrar-se dos comportamentos assertivos e negativos de sua equipe para usá-los na hora do feedback, reunião de avaliação, na delegação de uma tarefa ou responsabilidade. Deve ter em mente os anseios de seus liderados, as promessas proferidas, os compromissos assumidos.

Agora, o que mais relaciono com a memória é o conhecimento. O conhecimento é gerado quando mobilizamos dados e informações; quando usamos da experimentação, da observação para compreendermos fenômenos, sistemas, situações ou qualquer coisa que se tenha como objeto de nossa curiosidade, transformando-os em crenças, em verdades, gerando conclusões, princípios, relações causais.

No dicionário eletrônico Houaiss, temos duas definições interessantes para a palavra conhecimento: 1) Sob a rubrica filosofia: ato ou faculdade do pensamento que permite a apreensão de um objeto, por meio de mecanismos cognitivos diversos e combináveis, como a intuição, a contemplação, a classificação, a analogia, a experimentação etc.; 2) somatório do que se conhece; conjunto das informações e princípios armazenados pela humanidade.

Considero interessante por mencionarem a importância da memória no processo de “produção” do conhecimento, afinal temos que registrar as experiências e as observações, para depois fazer combinações, classificações e analogias e por fim, “armazená-las”.

Desse modo, já temos uma boa resposta para a pergunta proposta: a memória é importante para a aquisição e criação de conhecimento e para o desenvolvimento de competências diversas. Mas ainda não podemos afirmar que quanto maior a memória de um indivíduo, maior é o seu sucesso profissional. Portanto, gostaria de convidá-lo para ir um pouquinho além.

Podemos pensar sobre como seria o mundo se não houvesse memória. Com certeza não teríamos obtido nenhum avanço tecnológico. Acho que sequer teríamos inventado a roda, afinal só seguiríamos nossos instintos animais empurrando, arrastando ou carregando os objetos – a descoberta de qualquer técnica que facilitasse deslocamento de objetos, como um suculento pernil de mamute, seria facilmente esquecida e, como consequência, impossível de transmiti-la aos nossos pares ou descendentes.

Na verdade, esse é nosso grande diferencial em relação aos demais animais – justamente a memória. Foi ela que possibilitou que cada geração não precisasse passar novamente por tudo que a geração anterior passou. Eles podiam “partir” do ponto em que seus antepassados pararam. Para um filhote de cachorro, por exemplo, ele tem que aprender “novamente” tudo que sua mãe aprendeu – salvo as “memórias” já impregnadas em seus instintos. Aliás, será que podemos equiparar os instintos com a memória?

Ainda assim me sinto “preso” a importância da memória como processo de produção, transmissão e geração de conhecimento, talvez porque a palavra memória, oriunda do latim, signifique (Memor) “aquele que se lembra”, que por sua vez provem de uma raiz indo-européia Men “pensar”. Logo, para lembrar-se de algo é preciso pensar. E o pensamento ocorre onde? No cérebro. E o conhecimento ocorre onde? No cérebro, lugar de origem em que ele é produzido e “armazenado”. Correto? Sim, mas será que não podemos “armazenar” conhecimento ou informações em outro lugar?

Pensando em armazenar conhecimento na memória, trago à pauta um verbo: “decorar”. Quando decoramos guardamos na memória. Acontece que decorar vem do latim cor “coração”. Assim como recordar: “lembrar-se, trazer a mente”. Portanto, decorar é guardar no coração – não necessariamente na cabeça; e recordar é trazer do coração. E é aqui que eu queria chegar. Nossa melhor memória é aquela que fica no coração. Lá o espaço é infinito. O que guardamos lá nunca mais esquecemos – é eterno!

Agora posso afirmar que um profissional com boa memória é um profissional bem mais sucedido, é um profissional melhor.

Pão e circo: é carnaval!

Proporcionar “Pão e Circo” é receita antiga para aqueles que querem se manter no poder! “Panem et circenses”, no original em Latim – “teve origem na obra – “Sátira” do humorista e poeta romano Juvenal (vivo por volta do ano 100 d.C.) e no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo romano, que não tinha qualquer interesse em assuntos políticos, e só se preocupava com o alimento e o divertimento” (Emerson Santiago).

Meu Deus! Ele disse 100 d.C.? Romanos? Sei não viu, isso está parecendo muito atual e adequado ao nosso país. Não?

Acontece que minha área não é a política e este não é o forvm mais adequado para discuti-la: quero mesmo é ficar com o Panem. Como puderam deixar faltar pão?

Claro que a questão da geração de emprego está diretamente ligada à política. Os gestores dessa grande empresa chamada Brasil têm de cuidar para melhor posicioná-la frente aos desafios econômicos mundiais. Eles têm a responsabilidade de aplicar o dinheiro das taxas e impostos em infraestrutura e tecnologias competitivas, em leis que favoreçam o florescimento das empresas e o giro da economia, e devem cuidar para que os direitos e deveres sejam respeitados.

Mas o principal objetivo deste artigo é chamar a atenção para a nossa responsabilidade nisso tudo. O termo “pão e circo” é uma crítica ao povo e não aos políticos! Era o povo que não queria tratar de política e que só pensava em diversão – os políticos só fizeram atender aos anseios da população. O povo pediu por arenas (up dating: estádios!), festas, teatros!

Mas agora vivemos um momento muito interessante: o mundo parece estar bipartido, entre esquerda e direita. Alguns veem com desânimo ou até mesmo pessimismo, mas eu vejo com otimismo: primeiro porquê parece que mais pessoas estão se preocupando e se posicionando em relação a assuntos políticos/sociais – me parece que o povo agora pede por hospitais, escolas, centros de pesquisa …; e segundo por que tudo indica que um novo modelo está sendo gestado (se ainda não está precisamos então fecunda-lo).

O problema é que: fecundação, gestão e, principalmente o parto, exige muito esforço, dor, desconforto. É aí que entra o Circo!

A festa do carnaval, como conhecemos hoje, é resultado de uma evolução de mais de 3 mil anos, e sua principal razão de ser reside na catarse, ou seja, no poder de expurgar tudo aquilo que está reprimido no nosso consciente e inconsciente, para então renovar forças e seguir “dentro da linha” – respeitando os direitos e deveres que a sociedade nos exige.

Por isso, brincarei bastante o carnaval para depois arregaçar as mangas e dar o meu melhor – no trabalho e na política!

Fontes consultadas:

Emerson Santiago: http://www.infoescola.com/historia/politica-do-pao-e-circo/ – Acessado em fev/2017.

Tales Pinto: http://brasilescola.uol.com.br/carnaval/historia-do-carnaval.htm – Acessado em fev/2017.

Por que alguns treinamentos não funcionam?

Já ouvi de muitos colegas de recursos humanos a queixa de que algumas semanas após a aplicação de um treinamento os profissionais voltam a se comportar como antes.

Vamos refletir um pouco sobre o assunto? Confira no vídeo!

O artigo desta semana foi inspirado em: Beer, Michael; Finnstrom, Magnus e Schrader, Derek.: Por que programas de treinamento não funcionam – e o que fazer. Harvard Business Review Brasil, RFM Editores, Volume 94, Número 10, Outubro de 2016.